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SEÇÃO
Crônicas
30/09/2022 - 06h38
As mãos sujas de Tucídides
Dartagnan da Silva Zanela
 

Qual foi o último livro que foi lido por nós em nossa porca vida? Espere aí. Permitam-me reformular minha pergunta: qual foi o último livro que nós lemos, não porque um professor mandou, ou porque era exigido para realização de uma prova seletiva, ou porque era uma exigência profissional, mas sim, qual foi o último livro lido por nós porque simplesmente queríamos, de fato, aprender algo que se fazia presente em suas páginas. Qual o nome do dito cujo e do seu autor?

Muito bem, eis aí uma daquelas questões que não podem ser caladas, de jeito maneira, principalmente porque, vira e mexe, lá estamos nós vendo boleiras e mais boleiras de pessoas nas redes sociais, e nas rodas de conversas informais, mandando uns aos outros irem estudar.

Todos mandam todos irem estudar e, ao mesmo tempo, todos, praticamente todos, se recusam a realmente estudar qualquer coisa porque, como todos sabem, as sombras da ignorância pairam sobre o coração dos outros, no nosso não. No nosso a ignorância presunçosa é pura luz e “sapiência”.

Tal presunção manifesta-se principalmente quando o assunto é algo relacionado com a “Mestra da Vida”, a História.

Nossa! É de saltar faíscas para todos os lados.

Todo mundo adora, lacrar ou mitar, mandando todo mundo estudar a tal da História para poderem se pronunciar sobre qualquer tema de caráter histórico que, num dado momento, por razões políticas e por mera instigação midiática, acabou ganhando o centro das atenções no picadeiro da vida.

Pois é. Mas basta que todos os nervosinhos de plantão sejam indagados a respeito de quais livros eles leram sobre o tema que está em discussão para que, mais do que depressa, suas máscaras de “doutos sabidos” se partam em boleiras de pedaços.

Na verdade, se fizermos essa pergunta para nós mesmos, como propusemos no comecinho da nossa prosa, iremos perceber que nós, também, não somos de um naipe diferente não, pois há em nosso coração uma ignorância tão grande quanto nossa presunção de querer parecer saber tudo sem, necessariamente, termos de nos esforçar para conhecer.

Crônica falada.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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