Não existe inquietação que invada nossa alma, que esteja turvando o nosso olhar, que não possa ser dissipada por um minuto de silêncio, seguido de uma oração, da leitura piedosa de um trecho da Sagrada Escritura e, é claro, seguido de mais um cadinho de silêncio. Definitivamente não há perrengue que resista a isso. É tiro e queda. Entretanto, é de fundamental importância que tal prática não seja em nossa vida apenas uma medida paliativa, que ocasionalmente seja tomada por nós num momento de desespero. É preciso que nos habituemos a, todo santo dia, em mais de um momento do dia, a nos retirar do alarido da vida para permitir que sejamos tocados pela palavra de Deus no silêncio da nossa consciência. Lembremos que, habitualmente, procuramos realizar alguma atividade física. Alguns inclusive fazem isso todo santo dia porque sabem que tal hábito faz muito bem para a sua saúde física. Na verdade, tanto para a saúde física como para a mental, como muito bem nos lembra o velho brocardo romano. Nesse sentido, o silêncio, juntamente com a oração e com a leitura piedosa da Bíblia, são exercícios que, se forem realizados diariamente, fazem um bem tremendo para a nossa saúde espiritual. Sim, essa é uma daquelas obviedades gritantes que todos nós conhecemos e, por essa razão, nós a desdenhamos. E depois não sabemos porque nosso coração encontra-se tão atarantado, não sabemos porque vivemos tão desassossegados. E se esse desdém bobo, estilo birra de criança mimada, já não fosse o suficiente, muitas vezes, para justificar o desdém manifesto por nós frente a vida de oração, apresenta-se, para completar a fiasqueira, aquela resposta clichê, dita por gente que adora fazer pose de “sabido”, onde afirma-se que isso é uma atitude “muito simplista” frente a vida. Não, orar não é uma atitude “simplista”. Nunca foi e nunca será. Abrir nossa alma para o transcendente, voltar o nosso olhar para o mistério da vida, é uma das atitudes mais inteligentes e, por isso mesmo, humilde, que nós podemos tomar em nossa porca vida. Crônica falada.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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