Numa eleição polarizada como a que se aproxima, os dois candidatos favoritos para a ida ao segundo turno deverão obter algo em torno de 40% dos votos validos. Se um deles trabalhar mais rápida e eficientemente, poderá conquistar os eleitores isentos e os desiludidos que optariam por se abster ou votar branco ou nulo e, com isso, liquidar a disputa já no dia 2 de outubro, se obtiver 50% mais um voto. Considere-se que ambos os líderes das pesquisas têm os seus seguidores fiéis, que jamais trocariam de lado. Quem vota Bolsonaro jamais votará Lula e vice-versa. Como os demais concorrentes tendem a ter votação inexpressiva, tanto que a maioria nem pontua nas pesquisas, o caminho é buscar os eleitores desmotivados a votar e os tendentes a protestar por não haver a opção de seu gosto. E, se não funcionar no primeiro turno, a opção continuará válida para o segundo. Esse raciocínio nos leva à conclusão de que, apesar de praticamente decidida, a eleição passa pelo poder de sedução dos concorrentes junto ao eleitorado potencialmente disposto a não votar. As escaramuças entre os grupos ideológicos - as velhas direita e esquerda - que hoje nada significam para a população, são as responsáveis pelo clima desanimado de uns e exacerbado dos que já se decidiram. Prova de que a nossa democracia não conseguiu fixar-se tão ampla quanto o desejável. Num regime democrático, poderíamos até estar polarizados em dois concorrentes mais fortes, mas certamente haveriam pelo menos outros dois ou até três com chances de irem ao segundo turno. Isso seria salutar ao processo, que não seria um plebiscito como tende a ser este ano. As candidaturas deveriam ter surgido de militâncias e alianças entre as forças componentes do grupo e nunca de proselitismo ardiloso e muitas vezes inverídico ou de estranhezas jurídicas como as que hoje permeiam o processo eleitoral brasileiro. Apesar de toda a problemática, é preciso lembrar que é essa a situação colocada hoje para a apreciação dos 150 milhões de eleitores existentes no país. Seria muito pior se não tivéssemos eleições e, no lugar delas, grupos se alternando no poder sem a validação do voto popular. Além de presidente da República, que dá o tom da campanha em todo o país, teremos a escolha de 27 senadores (um terço do Senado Federal), 513 deputados federais, 27 governadores e 1035 deputados estaduais. Será bom para o Brasil e para todos nós, o dia em que o eleitor deixar de votar por ideologia (que é coisa do passado) e o faça levando em consideração, o passado, a honestidade, a seriedade das propostas e o direcionamento que o candidato promete dar ao seu mandato. Além de boas propostas, quem se candidata não pode prometer sem dizer de onde virá o dinheiro para realizar suas obras. Chega de ideologia inglória e de promessas enganosas! A campanha é um processo amarrado por legislações restritivas e situações que não proporcionam a melhor abordagem dos candidatos aos eleitores. É por isso que eu tenho dito seguidas vezes da conveniência do eleitor buscar as informações relativas àqueles candidatos em quem tendem a votar. Verifique o passado deles, as propostas que apresentam em campanha e quais as suas relações políticas. Com essa informação, será mais difícil votar errado e depois arrepender-se. É de nosso interesse votar naqueles que possam resolver os problemas que nos afligem. Pensem nisso... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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