Votar e ser votado. Esse o princípio básico do processo eleitoral. No Brasil, os cidadãos com idade de 18 a 70 anos de idade tem a obrigatoriedade do voto e os de 16 e 17 e maiores de 70 o praticam de forma facultativa. Os que desejam ser votados têm de preencher exigências específicas como não ter condenação judicial transitada em julgado e possuir os requisitos e faixa etária previstos em lei para o exercício do posto pretendido. Ninguém é barrado por ausência de popularidade ou falta de prestigio eleitoral. Essa a razão do surgimento de tantos candidatos sabidamente inviáveis, que inflam a campanha e o processo eleitoral e baixam o interesse do eleitor. Para evitar a campanha gigantesca, ineficiente e de altíssimo custo que hoje se realiza, o indicado seria a adoção de filtros que impedissem as candidaturas sem possibilidades de êxito. Um desses mecanismos é a eleição primaria no âmbito dos partidos políticos, um sucesso nas eleições dos Estados Unidos. Mas a primeira experiência brasileira nesse sentido fracassou. O ex-governador paulista, João Dória, vencedor da primária do `PSDB para a eleição presidencial, foi defenestrado pelos seus companheiros de partido e hoje não é candidato a nada. Ficou apenas com o prejuízo de renunciar ao governo do Estado quando ainda lhe restava quase um ano do mandato conquistado em 2018. Não tivesse tentado dar o salto maior, poderia hoje ser candidato à reeleição, com reais chances de vitória. Em vez de filtrar pretendentes e apresentar só os melhores em suas convenções, os partidos correm atrás de filiados que se disponham a oferecer seu nome e tempo em troca da fugaz exposição em campanha. Ocorre porque temos no país o exagero de 32 partidos regularmente estabelecidos e cada um deles poder apresentar em media 1,5 candidato por posto eletivo em disputa. Não há tanto eleitor com tempo e disposição para enfrentar uma candidatura sabidamente inglória. Só mesmo aqueles empedernidos concorrentes de todas as eleições, que podem até ter algum tipo de vantagem por nós desconhecidas. Há, ainda o perverso procedimento dos caciques partidários que, para alavancar o partido ou eleger a si próprio e outros donos da sigla, convencem filiados sem condições a lançarem-se candidatos e os entregam à própria sorte. Muitos deles, iludidos pelo interesseiro líder partidário, gastam o próprio dinheiro e até fazem empréstimo para alavancar a campanha que, só eles não sabem, terminará em fracasso... Erram os que pensam ser o número elevado de candidatos uma prova de vigor da democracia. Pelo contrário, os inviáveis tomam tempo que os concorrentes com reais chances de eleição poderiam usar para melhor explicar suas propostas. O desejável é que os candidatos aflorem da contínua atividade político-partidária e da vontade popular, apresentando-se só os portadores de reais chances de vitória. Esse zelo acabaria, entre outras coisas, com as propostas absurdas e enganosas que se vê em campanha, formuladas por concorrentes que têm a certeza de que nunca terão de cumpri-las porque jamais serão eleitos. Também impediria os espertos que, mesmo sabendo não ter possibilidade de se eleger, mergulham na campanha com o objetivo de potencializar seus nomes para futuras eleições em cargos mais compatíveis com o seu tamanho político. Candidatos a presidente e governador, mesmo derrotados fragorosamente, mercê da exposição, poderão, daqui a dois anos, surgir como candidatos viáveis a prefeito da cidade onde moram. A candidatura para ser boa tem de nascer da comunidade e não do interesse do candidato. Este teria de atuar em resposta ao chamamento e doar-se à causa publica, o que o tornaria mais imune aos desvios de conduta que têm emporcalhado a cena política brasileira e hoje fazem o combustível das eleições mais polarizadas de nossa história. Precisamos, no dia 2 de outubro, eleger (ou reeleger) candidatos que tenham o compromisso com as reformas que o país tanto precisa e sem as quais terá o desenvolvimento travado ou mal direcionado. Verifique se o seu candidato quer as reformas econômica, política e administrativa. Caso ele não as queira, procure outro. Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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