Para onde devemos voltar nossos olhos? Em que devemos focar a nossa atenção? Não sei dizer se essas seriam as questões mais importantes da nossa vida, mas, com toda certeza, elas estão entre as dez primeiras. No passado foi assim e, atualmente, continua sendo. Como todos nós muito bem sabemos, praticamente o tempo todo, a nossa atenção está sendo atraída por uma enxurrada de estímulos que, de certa forma, acabam por dissipar a nossa preciosa capacidade de concentração, e isso é feito de uma forma gradual, lenta, sem que percebamos o tamanho do estrago que tais estímulos vão fazendo conosco com o passar do tempo. Dificilmente nos perguntamos para qual direção deveríamos voltar os nossos olhos porque, na maioria das vezes, nós voltamos os abençoados para toda e qualquer direção, feito uma folha seca largada ao relento, deixando-se mover por qualquer brisa do momento. Não é à toa que nossa capacidade de concentração torna-se, a cada dia que passa, mais e mais minguada. Por isso é importante lembrarmos que a âncora que nos permite centrar o nosso olhar e os nossos sentidos em algo são as perguntas que levantamos, perguntas essas que nós mesmos devemos, aos trancos e barrancos, encontrar as devidas respostas. Porém, porque nesse caso há um baita porém, nós não levantamos praticamente nenhuma questão e, como consequência, acabamos não procurando resposta nenhuma. Isso mesmo! Nenhuminha. De um modo geral, todas as perguntas que fervilham em nossa cumbuca, pretensamente pensante, são questões que nos são sugestionadas pela grande mídia e demais tranqueiras similares e auxiliares. Não apenas isso. Junto com as perguntas, elas já nos entregam prontinho, embrulhadas em papel celofane, as respostas que elas querem que “encontremos” para as questões que nos foram sutilmente "sugeridas" por elas mesmas. Pois é. É bem desse jeito que vamos seguindo com a nossa vida: reverberando perguntas prontas, junto com um monte de respostas mal-acabadas, imaginando que por estarmos fazendo isso, seríamos pessoas profundamente críticas, criticamente críticas, muito mais do que críticas. Crônica falada.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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