Muito mais importante do que querer ter razão em discussões travadas no calor do momento, é termos uma disposição férrea para nos conhecermos, tintim por tintim, como nós realmente somos. Toda vez que canalizamos todos os nossos esforços para demonstrar, para pessoas que estão literalmente nem aí para o que estamos dizendo, que estamos cobertos de razão sobre isso ou aquilo, sem nos darmos conta, acabamos por nos corromper. Sim, nos corrompemos quando entregamo-nos a esse tipo de prática. Quando estamos muito mais preocupados em persuadir os outros, menos nos interessamos em nos convencer de que devemos aprofundar os nossos conhecimentos e, deste modo, acabamos nos prendendo de modo tolo num círculo sem fim de enganos e autoenganos que são sustentados pelo nosso vaidoso desejo de querer parecer estar com a razão. Isso mesmo! Quanto mais nos apoquentamos em querer ter razão, menos nos inquietamos em procurar conhecer a verdade porque, todo aquele que quer, porque quer, ter razão, não está interessado em ter a sua alma iluminada por ela, pela verdade, mas sim, em projetar a sombra da ignorância da sua alma desordenada sobre tudo e sobre todos para poder dizer para si mesmo ao final: “eu estava certo, apesar de nunca ter me esforçado para agir de modo verdadeiro”. Enfim e por fim, não queiramos ter razão. Queiramos sim testemunhar a verdade. E, para a realização de tal empreitada, é de fundamental importância que procuremos conhecê-la e nos esforcemos para caminhar sob seu guiamento. Se procurarmos agir assim, desse jeitão, não mais nos preocuparemos em ter razão, porque a verdade terá nos libertado de nós mesmos e de nossa intratável boçalidade. Crônica falada.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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