Muitas pessoas, querendo ou não, acabam por construir uma imagem de si mesmas. Algumas pessoas imaginam-se figuronas, outras consideram-se figurinhas, mas todos nós, de um jeito ou de outro, acabamos nos vendo, nos avaliando e nos julgando à luz dessa imagem, bem ou mal elaborada, que temos de nós mesmos. Essa imagem raramente é um reflexo realista de quem nós de fato somos. Na maioria das vezes acaba sendo uma idealização tosca que fazemos de nós mesmos. Idealização essa que, em alguns casos, é bem otimista e, noutros tantos, terrivelmente depreciativa. Tanto num caso como no outro, tais construções imagéticas (eita palavrinha bonita essa hein), ao invés de nos auxiliar, acabam invariavelmente tornando-se um baita obstáculo na formação da nossa personalidade. Um grande enrosco. Um enrosco tal que pode nos fazer cair numa alucinante espiral de desconhecimento de si que pode acabar por nos levar a um processo doloroso de autodestruição. Ora, quando nós confundimos a autoimagem que temos de nós mesmos com quem, de fato, nós somos, o autoconhecimento acaba sendo varrido para debaixo do tapete da existência para dar lugar ao autoengano que, de mãos dadas com o narcisismo e com o vitimismo, nos arrasta para longe de tudo aquilo que poderia nos elevar e nos levar a encontrarmos a nossa vocação, aquilo que é muito mais nós do que nós mesmos. Por isso, deixemos de lesco-lesco e procuremos nos ver como de fato somos, sem filtros, para que possamos, com honestidade, e com o auxílio da Graça, nos realizar como pessoa à luz da verdade, para não mais nos refugiarmos à sombra de mentiras autoindulgentes que apenas nos prendem junto à lama da desesperança. Crônica falada.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
|