Na sociedade atual há um culto safado a tudo aquilo que se apresenta aos nossos sentidos como sendo algo agradável. Na verdade, podemos dizer que no mundo contemporâneo, para muitas pessoas, se algo lhes parece agradável é porque esse algo é bom e, se uma geringonça lhes pareça desagradável é porque esse trem fuçado é mau e ponto final. Uma sociedade onde grande parte das pessoas procuram justificar os seus juízos sobre bases similares a essa, simplesmente é uma sociedade adoentada até o tutano. Uma sociedade muito adoentada. Qualquer pessoa, minimamente lúcida, sabe muito bem que a resolução de muitos males apenas é possível mediante a implementação de uma solução, no mínimo, desagradável e, obviedade das obviedades, grande parte dos trambolhos que avacalham com a vida humana são, num primeiro momento, tremendamente agradáveis e, por isso, frequentemente nos fazem de bobo. Não apenas isso. Se formos continuar nossa caminhada por esse raciocínio, iremos acabar enveredando para o seguinte ponto: muitíssimas atividades humanas são desagradáveis, muitas. Se fôssemos apontar uma por uma, a lista seria pra lá de graúda. Porém, tais atividades, maçantes do princípio ao fim, são necessárias. Necessárias e indispensáveis. Por isso, um sistema educacional que ignora essa realidade e procura centrar seus esforços e objetivos em querer ser agradável e divertida o tempo todo e a qualquer custo, acabará por privar os alunos da aquisição do senso de responsabilidade que, nada mais seria que a pedra angular da maturidade. Ser responsável não é fazer apenas aquilo que nos agrada, mas aquilo que é necessário. Por essa razão, penso que não é exagero algum dizer que o sistema educacional contemporâneo, e a sociedade como um todo, estão prejudicando profundamente as tenras gerações com sua bajulação hedonista mal disfarçada de educação, como estão. Crônica falada.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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