Nos encontramos na Semana da Pátria, nome dado, em tempos de mais patriotismo e menos polarização política, ao período onde se insere o 7 de setembro, data em que o Brasil se separou de Portugal. Por conta das narrativas interesseiras e desastradas de grupos adversários (que mais se assemelham a desleais inimigos), no lugar de priorizar os 200 anos da Independência, a preocupação de muitos é com a possibilidade de um golpe de estado que, na fala dos boateiros, seria desfechado por Jair Bolsonaro ou por militares a seu serviço. E pouco adiantam os seguidos desmentidos do presidente, que garante governar e pretender, se vencer as eleições, continuar governando "dentro das quatro linhas da Constituição". Até altas figuras do meio institucional justificam suas ações extremadas, incabíveis e inconstitucionais como sendo o combate a "atos antidemocráticos" supostamente cometidos por seus perseguidos. A democracia é aspiração nacional desde a época do Império e foi inspiração da República, em 1889. Mas, desde aquele tempo, não conseguimos definir claramente que tipo de democracia queremos. O marechal Deodoro da Fonseca, proclamador da República e seu primeiro presidente foi obrigado a renunciar quando tentou governar com mão de ferro e provocou revolta militar. Vários de seus sucessores fizeram governos autoritários, mas se diziam democráticos, como também afirmaram ser Getúlio Vargas, que assumiu o governo na esteira da Revolução de 1930, e os militares alçados ao poder pela Revolução de 1964, que restou rebatizada como "golpe" pelos civis que assumiram a partir de 1985. Semântica à parte, nas duas revoluções houve a quebra institucional com o afastamento dos eleitos e a posse de escolhidos pelas regras revolucionárias. Observe-se que durante os quase 133 anos da República, os políticos de todas as tendências sempre se disseram democratas. Até os comunistas e outros esquerdistas cuja gênese política é a ditadura do proletariado invocam a democracia da mesma forma que o fazem direitistas e centristas. A única conclusão lógica a que se pode chegar é que embora a palavra usada seja a mesma, a democracia é completamente diferente e até antagônica na cabeça de figuras de opiniões e comportamentos tão diversos. Só para usar um exemplo do presente, imaginem quão diferente deve ser a democracia nos raciocínios de Bolsonaro e de Lula, os dois principais concorrentes das próximas eleições. Difícil saber, por mais que expliquem. Espera-se que os interesses subalternos ou deformados sobre a democracia não turvem a comemoração do bicentenário da Independência. Que a presença do coração de d. Pedro I - trazido de Portugal especialmente para a festa - motive os políticos, os poderosos e cada um do povo a pensar mais no Brasil e menos em ideologias, fragmentação e interesses próprios ou de grupos. Que todos se comportem como Nação. Jamais como bandos de desgarrados. Que o ducentésimo 7 de setembro após o livramento das amassas lusitanas transcorra em paz e todos os titulares de algum tipo de poder não extrapolem no seu exercício. Na política, direita, esquerda e centro se respeitem, nos quartéis e em todos os órgãos oficiais haja a necessária tranquilidade e a Pátria siga rumo ao grande destino esperado há tantas gerações e supostamente ainda distante por conta da falta de comprometimento de muitos daqueles que deveriam ter trabalhado para a sua chegada. O Brasil é uma grande e viável Nação, mas não pode continuar atrapalhada por aqueles que a querem apenas para proveito próprio e não se preocupam com o destino dos mais de 200 milhões de compatriotas... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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