De tempos em tempos, aparecem alguns termos por aí que acabam tomando algum espaço e, por conta disso, terminam caindo na boca do povo e passam a ser usados por todos em toda e qualquer circunstância, como se esses fossem uma nota de dez reais. Termos que, malandramente, procuram, de certa forma, suavizar um e outro vício moral que temos encalacrado em nossa alma. Eles nos ajudam a nos esquivar dessa ingrata tarefa de termos de dar os devidos nomes aos bois e jabutis e, por isso, utilizamos as ditas palavrinhas que estão na crista da onda para nos safarmos dessa. Uma dessas abençoadas, sem dúvida alguma é a tal da “autossabotagem”. Reparem que toda vez que essa dita cuja é evocada, ela o é para não dizermos que deixamos de fazer algo, ou para não explicarmos porque estragamos tudo. É que “autossabotagem” é mais chique de se dizer e dá até um certo ar de, como direi, superioridade, não é mesmo? Vejam, o Fulano é assim não porque é vadio, e o Beltrano é assado não porque não está nem aí pra nada. Nada disso, cara pálida! É porque ele apenas está se “autossabotando”. Não. Definitivamente não. Nossa alma é desordenada e fragmentada por um monte de vícios morais e caprichos pessoais que, muitas e muitas vezes, nos dominam e terminam por nos agrilhoar junto ao chão frio da nossa má vontade. Não é “autossabotagem”. É lassidão, é autocomplacência, falta de bom senso, ausência de senso das proporções e, principalmente, uma tremenda carência de responsabilidade. É tudo isso e muito mais, muito mais do que a palavra “autossabotagem” é capaz de abarcar e expressar. Crônica falada.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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