Leio a notícia de que às vésperas das eleições, a Petrobras intensifica o anúncio do corte de preços dos seus produtos. Apesar de estarmos próximos à eleição e da redução estar realmente acontecendo, quero crer que uma coisa não esteja ligada à outra. Isso seria inadmissível e até poderia configurar crime eleitoral. A petroleira acaba de baixar o preço da emulsão do asfalto em 6,40%, da gasolina de aviação em 15,7%, do querosene (também de aviação) em 10,6% e nas últimas semanas já diminuiu o valor da gasolina de automóvel e do óleo diesel utilizado na frota de transporte. O correto e desejável é que hajam sólidas razões econômicas e técnicas tanto para a alta alarmante desses derivados de petróleo ocorrida nos últimos meses quanto para a redução que hoje se verifica. E que a eleição seja apenas um acontecimento paralelo inserido no calendário, sem qualquer interferência na formulação dos preços. Penso que o alinhamento dos preços praticados pela Petrobras ao dólar e ao mercado internacional a partir de 2016, em vez de colocar os valores aqui cobrados em tendência de baixa - conforme se argumentou na época - teve efeito contrário porque sofreu o impacto da valorização do dólar e do preço do petróleo - que se elevou de 20 para mais de 100 dólares o barril. O mais indicado é rever essa política que penaliza todos os brasileiros e enriquece a empresa que, sendo estatal, não deve visar lucro além daquele que garanta a sua sustentabilidade. Também assustam as notícias do nível salarial dos dirigentes e das benesses cedidas aos funcionários, pois isso decorre do quanto pagamos pelo litro do combustível que consumimos. Somos obrigados a considerar que o Brasil, por conta das ações de desenvolvimento e a atração de funcionários e de público para os pontos desbravados - Brasília dos anos 50 e 60 é o grande exemplo - criou condições muito vantajosas para quem trocasse a vida badalada do Rio de Janeiro - então capital federal - pelas agruras da cidade plantada no meio do sertão. Passado aquele período, o mercado de atrações tornou-se regra. Todas as classes detentoras de algum tipo de poder pressionaram os governos e estruturas, conseguindo impor seus interesses. Há, por exemplo, o profissional de alto nível que, mesmo possuindo casa própria na localidade onde atua, recebe elevada verba mensal à título de auxílio-aluguel. E quando marido e mulher são da mesma carreira, ambos recebem, embora residam numa única moradia. Há o auxílio-paletó, os veículos de representação, cartões corporativos e tantas outras coisas que fazem a felicidade e o conforto dos privilegiados e, não fossem ali empregados, poderiam matar a fome dos desvalidos. Estamos vivendo o período eleitoral. Até o momento, não vimos nenhum candidato defendendo o fim dos supersalários que extrapolam os níveis constitucionais - burlados através de artifícios - e a redução dos gastos do dinheiro dos impostos com a manutenção do Estado perdulário. Há, no máximo, a grita de governadores e prefeitos que pedem maiores fatias do bolo arrecadado pela União, mas nada dizem sobre a baixa das alíquotas, que reduziria o tamanho do bolo. Carecemos de urgente reforma de conceitos para, em seguida,m reformar a política, a economia e a administração pública. Os vícios acumulados desde o descobrimento não podem permanecer como direitos adquiridos. O poder público não pode continuar enriquecendo a pequena parcela dos que conseguiram acessá-lo e ignorando a existência de milhares de necessitados que, com uma pequena parte do que hoje se gasta para a manutenção da ilha da fantasia, deixariam de enfrentar privações e, principalmente, de passar fome. Acorda Brasil!!! Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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