O comício, outrora principal ponto de encontro onde os candidatos se empenhavam na conquista do voto do eleitor indeciso, hoje está restrito a um acontecimento pontual que marca o lançamento ou final da campanha e, em vez de mirar o voto dos presentes, busca como lucro a cobertura midiática e a reprodução nas redes sociais, e-mails e outros meios de comunicação direta ao eleitorado. O comício da atualidade está nas "lives" - transmissão ao vivo onde o candidato é sabatinado ou fala diretamente com o eleitor a ser conquistado. A comunicação pelo meio eletrônico é produzida para tocar o interesse do público-alvo e, depois de executada permanece disponível nos aplicativos à espera daqueles que não a acompanharam ao vivo. São milhões de votantes abordados ao mesmo tempo, audiência impossível num comício tradicional, por mais bem organizado e atrativo que seja. Desembarcamos na chamada Aldeia Global vaticinada pelo filósofo canadense Herbert Marchall McLuhan, nos livros “A Galáxia de Gutenberg (1962) e “Os Meios de Comunicação como Extensão do Homen (1964). Quem não leu as obras, naquele tempo não tão disponíveis como hoje, pensava ser a tal aldeia apenas uma expressão ou frase de efeito. Redes de televisão reivindicaram o conceito para si. Mas só a chegada e massificação da internet nos trouxe a compreensão do termo. Nas últimas décadas não permaneceu pedra-sobre-pedra do que até então se conhecia em termos de comunicação e tecnologia. A telefonia, o rádio, a televisão, os impressos, a relação entre empresas, repartições e até o trato individual renovaram-se em função da "aldeia" que - para sermos honestos - ainda não sabemos a que nível nos impactará num futuro não muito distante. Para ficarmos no tema eleitoral, cabe lembrar que, apesar da polêmica instalada, as urnas eletrônicas são produtos da aldeia que, certamente, receberão aperfeiçoamento e jamais deixarão de existir. É bem provável que ainda chegue o dia em que o eleitor possa votar através do seu telefone celular, ou do aparelho que o suceder, sem a menor dúvida sobre a correta contabilização dos votos e a honestidade dos procedimentos. É tudo uma questão de organização e método. Os candidatos do presente têm nas “lives” a chance de falar com seu eleitorado por horas, sem a pressa do rádio e da televisão ou o espaço reduzido dos jornais e revistas. Já há, nos aplicativos, peças com duas, três ou mais horas de duração e milhões de acessos. Não é exagero dizer que quem tiver mais habilidade para utilizar o meio pode, com isso, ganhar as eleições. Para bem aproveitar esse novo e potente recurso eletrônico-social-eleitoral, o candidato e sua equipe, além de produzir e disponibilizar o material, deve repassá-lo ao seu círculo de amigos e correligionários que querem vê-lo eleito, com o pedido de que também repassem aos seus amigos e estes façam o mesmo. Dessa forma, estarão vivendo a almejada Aldeia Global e, sem qualquer dúvida, construindo a desejável pirâmide do bem. Para a minha geração, que chegou antes da massificação da televisão (quando o povo ainda tinha disposição e tempo para sair à noite) e do próprio conhecimento do conceito da Aldeia Global, ficará apenas a história dos comícios assistidos onde os candidatos - Jânio, Adhemar, Lacerda, Montoro, Tancredo e tantos outros - se desdobravam para fazer boa figura diante do povo. A ironia contra o adversário era comum, assim como trejeitos e expressões que não caberiam numa “live” produzida para milhões de votantes. Nas eleições passadas, já vimos a força da internet e das redes sociais. Bolsonaro ganhou a presidência da República internado no pós-operatório da facada que levou em Juiz de Fora (MG). Sua equipe se desdobrou para informar ao eleitorado a evolução do seu estado de saúde e levar a sua mensagem de candidato. E deu certo. Hoje já existem no mercado profissionais voltados à comunicação eleitoral na internet. Isso poderá ampliar a disputa, o que é salutar à nossa democracia. Nas próximas eleições, em 2024, quando elegeremos prefeitos e vereadores, a presença da internet em seus diferentes aplicativos deverá ser maior ainda, mesmo estando os candidatos a falar exclusivamente para a sua cidade. Quem viver verá... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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