O sorteio é feito, mas não há jeito, ao ser logo chamado, o sorteado interpreta que existe privilégio, pensando que é vantagem, que se diferencia dos outros. E isso ele consegue: talvez se destaque como o que mais mente, e com a maior cara de pau, trocando os números e os fatos, aguardando a risada de um outro aliado da mentira ou da ofensa. É dito que o nosso planeta Terra começou a se formar há mais de 4,5 bilhões de anos, mas nele, assim como a barata ou o escorpião, considerados bichos pré-históricos, faz tempos que a mentira existiu, desde os primeiros passos dos humanos. A humanidade, mesmo tendo evoluído a partir de 2,5 milhões de anos, com o surgimento do homo sapiens, há mais ou menos 500 mil anos, lamentavelmente, iniciou-se no cultivo das sementes da maldade, como as de matar, e com certeza, as de mentir... Nos debates, o tempo se esgota, já se foram os sessenta segundos, mas quem é enganador embusteia na réplica, na tréplica para continuar mentindo ou talvez no próximo sorteio. Mexe com a boca, saliva, acha que tal sorteio é sinônimo de sorte. Mas, tal espetáculo desperta, no público espectador, o bom senso contra o no sense. A apresentação de ideias é necessária para elegermos as melhores, no entanto se transforma numa cansativa contenda de acusações, não instruída pela verdade, o que já preconizava Lowell: “A cada indivíduo e nação chega o momento de decidir, no conflito da verdade e da mentira, pelo lado bom ou mau”. Chama-se o mentiroso de candidato, o que, pelas origens da palavra, significaria “cândido”, puro, inocente, albo. A sujeira da mente mentirosa não se lava com um banho... Não é por menos que, ao simbolizarem tal candura, os políticos romanos usavam uma túnica branca, alva, sem manchas, como se fosse um paramento dessa virtude cívica. Nos debates, não há necessidade dessa indumentária, porém não mentir é necessário. Pois, logo que se percebem os primeiros sinais da mendacidade, o mentiroso perde a sua credibilidade, a confiança. Porque conclui o eleitor que a mentira é substancialmente consequência da insinceridade; as mentirosas e os mentirosos são essencialmente insinceros. Nesse aspecto, distingo a mentira da ‘não-verdade’ que pode ser dita por equívoco, assim a não-verdade pode ser dita sinceramente. Mas a mentira jamais será pronunciada por uma mente com sinceridade. Quem mente sabe e manipula tudo o que, intencionalmente, seja dito ou lido para se beneficiar ou prejudicar, para enganar alguém. Isso ocorre demasiadamente nas disputas ou concorrências do dia a dia do trabalho, das profissões ou das eventuais funções que se exerçam, em qualquer das mais respeitáveis instituições; e também nas disputas da inveja e do ciúme. Sempre houve um provérbio de que “a mentira tem perna curta”... Isto quer dizer que logo se descobre sua inveracidade. Principal e costumeiramente, conhece-se o cinismo de quem “gosta de mentir”, de não ser sincero. O hábito de não mentir dá crédito a ser, socialmente, considerado veraz, exatamente na fala possuidora de veridicidade. De modo geral, o mundo político, infelizmente, possui no seu antro ou no seu âmago, personagens que, cinicamente, avantajam-se porque mentem, porque não são sinceras; objetivamente trata-se de um prêmio ou de um ganho injusto. Cometerei a delicadeza de deixar ao leitor discernir quem são as mentirosas ou os mentirosos; não havendo escassez, é, portanto, tarefa fácil. Há também certa abundância de mentirosas e mentirosos nas redes sociais, nos chats, nos whatsapps da vida, o que hoje se tipifica como crime.
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