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Opinião
25/07/2022 - 06h26
Efeitos da má governança
Benedicto Ismael Camargo Dutra
 

Sri Lanka, sob influência da Inglaterra até 1948, pode se configurar em mais um caso em que os dirigentes deram prioridade à própria qualidade de vida, sem maior empenho na construção de um melhor futuro para a população. É a sina da humanidade. Tiranos sobem ao poder e não cumprem a sua tarefa de conduzir a população para níveis mais elevados, conseguindo enganar a todos, mas só por um tempo; um dia a verdade aparece. A Índia, tornada independente em 1947, se posicionou um pouco melhor, apesar da elevada população, desenvolvendo tecnologia e diversificando a produção. Argentina e Venezuela mostram nitidamente o efeito de má governança e ausência de propósitos para promover melhores condições de vida à população.

Para Portugal, no passado, o Brasil era uma simples colônia. A partir da independência, a presença da Inglaterra se acentuou, mormente por ser o rei de Portugal uma criança sob tutela. Pedro II levou tempo para conseguir impor o seu ritmo. Após 1889, a situação piorou, pois o Brasil não tinha autonomia para decidir nada e sua dívida externa crescia sem produzir resultados internamente. O mau costume perdurou; faziam gato e sapato do Brasil. Anos depois, Getúlio Vargas, então presidente do Brasil, se opôs, foi mal assessorado, acabou emparedado no palácio do catete. Uma nação promissora, com população ativa, foi travada através de governantes fracos e inclusive os militares enfrentaram problemas.

E vamos continuar dizendo “sim senhor” aos interesses externos e precarizando a nação? É necessário muito cuidado, pois os inimigos do Brasil torcem para que surjam tumultos, e tenha início uma confrontação para desarranjar tudo, e empurrar a nação para a beira do abismo. Até o final de 2022, que rumo tomará o Brasil? A inflação está vinculada ao monte de dinheiro emitido, e ocorreram desajustes devido à pandemia e guerra na Ucrânia. Um fator permanente é a estrutura monetária e cambial, com tudo vinculado ao dólar e a dependência dos países com moeda fraca. O dólar vem, faz ganhos e vai embora e deixa um monte de reais rodando fora da atividade produtiva, o que acaba ampliando a inflação.

A questão mundial das moedas é complicada por ser um processo que vem sendo moldado há séculos e que no pós-guerra adotou o modelo do dólar-ouro, abandonado em 1971, sem que algo firme fosse colocado em seu lugar. Como estabelecer uma paridade entre moedas fiduciárias feitas no papel? O Brasil fez várias reformas monetárias, sendo o plano real a mais recente. Dólar, Iene, Euro, Yuan, Real e tantas outras moedas numa balburdia desafinada sem fio condutor. Será que uma moeda única resolveria? Mas quem emitiria e controlaria? Quem confiaria no grupo que assumisse o poder do dinheiro mundial?

No pós-guerra, os Estados Unidos apresentaram ao mundo um invejável modelo a ser seguido. No entanto, uma série de acontecimentos desagradáveis mostra que a situação está mudando por lá, a começar pela redução e insatisfação da classe média e aumento da precarização, se bem que no Brasil o declínio tem sido mais acentuado, visivelmente na qualidade dos empregos, da saúde e educação. Um país que há anos sofre com a dengue e a chicungunha, mas que até hoje não dispõe de remédios adequados. Enquanto isso, os estudantes continuam com dificuldades para ler e interpretar um texto e fazer as contas aritméticas mais elementares.

Coisas estranhas estão acontecendo pelo mundo. As lutas pelo poder e interesses se acirram. As cobiças têm determinado a forma de como os sistemas funcionam. Os Estados se apresentam alquebrados com dívidas e insatisfações. Nenhum Estado está conseguindo transmitir imagens de melhor futuro para seu povo, sem agredir à natureza, criando espaço aberto para oportunistas, larápios e enganadores com falsas promessas, palradores que querem fazer fortuna de um dia para outro. A boa qualidade de vida vai ficando cada vez mais distante. Inegavelmente o mundo passa por um processo de grandes transformações, mas como compreender o sofrimento das massas através da crença numa vida só?


Nota do Editor: Benedicto Ismael Camargo Dutra, graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP. Coordena os sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br. E-mail: bicdutra@library.com.br

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