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Opinião
22/07/2022 - 06h23
As urnas da discórdia
Dirceu Cardoso Gonçalves
 

Na reunião com embaixadores, o presidente Jair Bolsonaro voltou à carga sobre as urnas eletrônicas e sua falta de auditabilidade. De outro lado, o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Edson Fachin, declarou estarmos na “hora de dar basta”, acusando o chefe do governo de promover desinformação e populismo autoritário. É preocupante quando se estabelece a rota de colisão entre o titular do Executivo e o chefe da Justiça Eleitoral, principalmente quando nos encontramos a dois meses e meio das eleições que renovarão os mandatos do presidente da República, governadores, um terço do Senado e da totalidade da Câmara dos Deputados e Assembléias Estaduais.

A divergência é prejudicial ao processo eleitoral na medida em que coloca dúvida na cabeça dos eleitores e contenda entre o Governo e a Justiça Eleitoral Por mais certeza que tenham do que dizem - Bolsonaro contra as urnas e o TSE a favor - deveriam, em nome da ordem institucional e da própria democracia, esgotar o assunto buscando luzes à divergência e não potencializando-a a ponto de virar turbulência. No lugar do ataque e da defesa intransigentes, deveriam procurar do ponto de equilíbrio. Recorrer a vistorias e pareceres de técnicos e instituições insuspeitos e apolíticos para, com isso, alcançar a convivência salutar nesse momento onde o andamento do calendário e a proximidade do importante evento eleitoral não admitem mudanças significativas e/ou imediatas.

Os parlamentares de oposição que, mais uma vez tentam imputar crimes ao presidente da República e intrigá-lo com o Poder Judiciário, fariam melhor se deixassem para o Ministério Público as denúncias de supostos crimes cometidos por quem quer que seja e, também, trabalhassem pela elucidação das dúvidas sobre as urnas eletrônicas e os instrumentos de apuração eleitoral.

Muito já se ouviu falar - a favor e contra - as urnas eletrônicas. O eleitor não cooptado por qualquer dos lados, fica com dúvidas que dificilmente serão dissipadas. É preciso trabalhar em busca da maior segurança e transparência possíveis no processo de votação, apuração dos votos e declaração dos eleitos. Disso dependerão o futuro do país e o respeito à vontade do eleitor, que é soberana no momento do voto. Se qualquer impropriedade levar ao desrespeito da decisão da maioria, a eleição pode transformar-se numa farsa e o resultado disso levar à instabilidade.

Depois de tanta divergência e exacerbação, as urnas eletrônicas restam na pauta da suspeita, mesmo que sejam tão seguras e honestas como afirmam seus defensores. O difícil é convencer o eleitor, que é o seu grande usuário do sistema. Ele precisa ter a certeza de que aquele voto que depositará no equipamento será o contabilizado e sua vontade respeitada. A urna é colocada figurativamente como a mulher do antigo imperador. Não basta ser honesta; tem, também, de parecer honesta porque, sem isso, dificilmente será respeitada...

É de se esperar que Bolsonaro, Fachin e os parlamentares oposicionistas contenham-se e busquem o melhor caminho para o país e ao processo democrático. Não esbravejem e nem puxem a corda mais do que permite a sua resistência. Se ela arrebentar, o resultado poderá ser muito ruim. Precisamos de entendimento e solução. Os rompantes são impróprios e dispensáveis...


Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).

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