Em resumo, o acontecimento da miserabilidade tem-nos atordoado de tal maneira que, aqui e acolá, indagamo-nos porque nós fomos criados ou existimos, diante de tantas notícias sobre esse assunto. Os cronistas cansam-se de escrever como que estivéssemos repetindo palavras ou teorias e valores da moral e da ética, quase no convencimento de que essas tivessem se acabando ou como elas já nos causassem um certo enjoo. Até parecem discursos impensados que não se renovam, tais quais notícias repetidas, causando contra si, não opiniões contrárias aos seus significados, mas contra si a raiva e a rejeição do público. Daí, é que escrever dá trabalho e o trabalho de saber renovar a linguagem e as maneiras de reapresentá-la, sem constranger o leitor com a vã repetição dos acontecimentos. Contudo, a nossa pressa tem sido insaciável em busca de novidades, tendo nas mesmas notícias a repetição do óbvio, o reforço do crime ou reeditadas motivações da intranquilidade. Há quem apregoe “nada de novo sobre a face da Terra”. Isso insinuaria à criatividade, invertendo, sobre tudo que nos fosse maligno ou a uma nova realidade, oposta ao que nós estamos experimentando? A escolha não está rigorosamente naquilo que seja o contrário do que vem ocorrendo, mas sob determinantes desejos, interesses e necessidades, que aliás sempre possuem a mesma substância, idênticos conteúdos, costumeiras paixões. Nisso há, todavia, nossas fraquezas e inconsequências, que se tomam como se fossem coisas dos antepassados, mas se revelam como, atualmente, na desvalorização das belas letras e até mesmo da cultura do espírito, o que nos distinguiria dos povos ancestrais. Numa coisa temos em comum: virtudes e vícios, mas não que sejam iguais. Caberia aos nossos bons propósitos estabelecer quais seriam nossos interesses e à nossa razão, conduzi-los; daí as diferenças. Assim, nosso idealismo e nosso espírito, como ócio, fazem com que o comodismo produza também mais pensadores ou pessoas tendentes à reflexão. Fora as companhias, são as notícias que mais nos tiram, além do sossego, do isolamento ou da solidão. Essas são atitudes que são parecidas entre si, no entanto, são diametralmente opostas. Verifica-se que elas podem se excluir ou se contradizer. Ora, o isolamento resulta de um comportamento que nos fecha por fora; isolados, encontramo-nos cercados de obstáculos que nos impedem de nos comunicar com os outros e com o mundo, privando-nos até do diálogo. Constata-se a estratégia de isolar o inimigo para enfraquecê-lo, debilitá-lo. Em todos os sentidos, o isolamento empobrece, é como se submetido a um processo de inanição. Já a solidão se diferencia, ela se origina pela interiorização, processo dentro de nós, nas nossas raízes mais profundas. Aliás, é no silêncio, quando se aprofunda nossa vida interior, ao interior do nosso ser. A solidão consolida nossa unidade, dá-nos consistência para enfrentarmos as maiores adversidades da vida, sem recorrermos a outras forças, ao não ser a que existe dentro de nós mesmos. As notícias não nos trazem certezas, são elas apenas convites à verificação entre o que é anunciado e o fato ou a realidade. Ouvir ou ler notícia é começo de uma estrada, que pode ser provisória ou em busca de se constatar a verdade do enunciado. Imagine-se quando esse enunciado cheira a fake-news, já parte, de origem, da falsidade. Se nossas certezas são do nosso tamanho, grandeza da capacidade da nossa sinceridade, nossa compreensão e o nosso entendimento é de que a fake-news já nasce, com certeza, muito doente, falsa e não nos dará algum tamanho...
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