Na calidez da manhã, ao sabor do vento, a imagem: o balão qual diáfana flor quase beija as saias das palmeiras, adornando a paisagem da lagoa. Mas nos festivos tons das cores que ganham o céu azul, não é só o balão que plana sobre as águas de pura prata reluzente sob o sol. Viajo nesse corpo flutuante, correndo ao encontro de sonhos imersos nas fímbrias do tempo. Tal qual os balões da Capadócia, esse que acorda a cidade também detém pensamentos alados. Meu olhar espelha matizes em listras suspensas no ar, e dou com a jovenzinha, sentada sozinha à orla destas areias, perdida em lamentos pelo amor que partia. Os anos eram verdes, os sonhos passionais. Velaria agora a mulher, amores furtivos de quereres juvenis? Temo que não. As loucuras amadurecem, se acomodam. Sedimentados em cantos do passado, antigos delírios trazem o riso, mesmo sabendo que tudo valeu intensamente o momento existido... Ao ritmo dos dias, ao embalo das emoções, cada momento traz em si a magia do que o fez acontecer. Meus olhos bebem da imensa gota movente, que baila na mesma inconstância com que as coisas existem e passam... O balão, no vago azul desta manhã, apenas cumpre a sina de despertar-me lembranças tardias. Perco-me em devaneios de outrora, divago em nuances inefáveis, enquanto a alma se entrega ao beijo onírico das memórias, ao sabor dos acalantos e blandícies do vento sobre a lagoa.
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