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Opinião
18/06/2022 - 06h46
É fácil ser reeleito?
Francis Ricken
 

A colocação do presidente Bolsonaro nas pesquisas eleitorais e o índice de rejeição foram construídos a duras penas durante os seus anos de mandatos, com crises políticas, conflitos desnecessários e com escolha de agendas que agradam seu eleitorado cativo. O presidente criou antipatias e situações que fragilizam sua campanha à reeleição, algo incomum entre candidatos que têm a máquina pública na mão e a base de apoio que o presidente conquistou no Congresso Nacional.

Desde que a regra de reeleição foi estabelecida em 1997, todos os candidatos à presidência que concorreram pela segunda vez consecutiva foram reconduzidos ao cargo com disputas mais ou menos acirradas, mas a vitória foi conquistada. Tomando as pesquisas de intenção de votos para os governos estaduais, observamos que os candidatos à reeleição têm sido protagonistas nas disputas, o que demonstra a vantagem de estar em condição de disputar a reeleição. Se Bolsonaro não conseguir êxito no processo eleitoral de 2022, será o primeiro caso de um presidente que concorre à reeleição e não consegue seu objetivo. A vantagem dos candidatos a reeleição é enorme para qualquer cargo, afinal, ter conquistas políticas, recursos e capacidade de fazer uma campanha eleitoral de forma mais tranquila, facilita a recondução dos candidatos. Além disso, estar em um cargo como o de Presidente ou Governador, lhe dá a condição de fazer uso do próprio governo de maneira indireta no processo eleitoral, já que é muito improvável a separação entre a figura do candidato e a do político em exercício da função. Essa situação daria ao candidato Bolsonaro uma vantagem enorme e, em tese, o colocaria de forma destacada nas pesquisas de intenção de votos frente aos seus adversários, o que até o momento não tem se demonstrado, afinal, permanece em segundo lugar, e com Lula criando vantagem. Tal situação diz muito mais sobre a forma com a qual o presidente Bolsonaro conduziu seu governo do que propriamente sobre a campanha exitosa de seus adversários.

Bolsonaro sempre foi adepto do conflito, isso desde sua longa vida política na Câmara dos Deputados até sua condição de presidente. Teve conflitos com aliados próximos, com o partido que o elegeu, com parcelas das forças militares que lhe davam sustentação, com setores tradicionais do Congresso Nacional, com setores da sociedade civil que o apoiaram, com líderes mundiais e com uma parcela gigante do eleitorado, e isso pavimentou a rejeição à sua figura. Mesmo tendo a máquina do Poder Executivo em mãos e conseguindo a articulação do centrão no apoio à sua candidatura, pouco fez para estabelecer pontes políticas que lhe dessem tranquilidade na eleição de 2022. Se o candidato quiser conquistar o eleitorado e derrotar seu principal adversário terá que mudar, e muito, a condução de sua campanha eleitoral, afinal, Lula jogando parado teve mais resultados que Bolsonaro com todo o aparato estatal nas pesquisas de intenção de votos.

A campanha eleitoral é ingrata e geralmente cobra o preço quando os resultados não chegam rápido, principalmente quando falamos de candidaturas favoritas nos processos eleitorais. Os aliados políticos de primeira ordem percebem nos primeiros momentos do processo eleitoral se terão vantagem ou desvantagem em se aliar a figuras políticas que não desempenham o suficiente eleitoralmente, coisa que ficou muito clara na campanha presidencial de Geraldo Alckmin, em 2018, quando os partidos políticos que o apoiavam migraram para a candidatura de Bolsonaro nas últimas semanas de campanha.

A estratégia eleitoral escolhida pelos dois principais candidatos nas primeiras semanas de campanha de rua serão determinantes para a eleição do próximo presidente. Ambos são fortes, mas Bolsonaro tem a desvantagem de lutar contra dois adversários, Lula e contra si mesmo.


Nota do Editor: Francis Ricken é advogado, mestre em Ciência Política e professor da Escola de Direito e Ciências Sociais da Universidade Positivo (UP).

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