Sou daqueles que cresceram - nos anos 50 - vendo direita e esquerda acusando-se mutuamente e classificando o adversário como um perigo à Humanidade. Naquele tempo pontuava a guerra fria, onde os simpatizantes do socialismo eram perseguidos pelo macarthismo nos Estados Unidos e os capitalistas se davam mal na União Soviética. Por definição, fora da URSS, os comunistas soviéticos queriam chegar ao poder pelo voto, mas havia também os simpatizantes de Mao Tsé Tung, que queriam fazer uma revolução nos moldes da chinesa. A esquerda, embora o Partido Comunista Brasileiro estivesse proibido de atuar desde 1948, operava dentro dos sindicatos. Lembro-me bem de um parente que era ferroviário e ativista stalinista. O Brasil de então vivia a democracia do pós-guerra. Viu o suicídio de Getúlio Vargas e conviveu com lideranças como Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, Carlos Lacerda, Adhemar de Barros e outros, a maioria deles sem polarizar, até porque quem fazia pregação de esquerda era perseguido. Muitos ferroviários o foram. Com a tomada do poder pelos militares, em 1964 (que assumiram sob o pretexto de manter a democracia e não permitir a entrada do comunismo), o sonho da esquerda ficou ainda mais distante, tanto que os mais ousados partiram para a clandestinidade e a luta armada, e se deram mal. O proselitismo foi maior do que as ações porque, proscrita como estava, a militância de esquerda não conseguia se ampliar. Terminados os governos militares e em vigor lei da anistia (de 1979), os que estiveram exilados voltaram, os partidos comunistas e socialistas foram reativados e desaguamos no que temos hoje. Uma fragmentação com mais de 30 partidos registrados e outros 70 com pedido de registro. Na minha opinião, direita e esquerda, hoje em dia, não existem. Não passam de bandeiras publicitárias que tentam iludir o eleitor, especialmente o jovem, pregando informações muitas vezes inverídicas. Perderam até o significado histórico. Seus militantes não guardam nenhuma similaridades com os expoentes tanto de um lado quanto do outro e se tivessem semelhança também nada valeria porque o presente é diferente do passado. A América Latina - inclusive o Brasil - sofreu no pós-guerra grande influência dos Estados Unidos, embora a União Soviética, (diretamente e depois através de Cuba) tenha tentado implantar o socialismo por aqui, o que não deu certo. Exemplo disso é a tresloucada idéia da URSAL (União das Repúblicas Socialistas da América Latina) defendida por Fidel Castro e Lula no Foro de São Paulo. Depois de um ciclo de golpes militares e ditaduras - algumas sanguinárias - o continente passou a realizar eleições regularmente e seus governantes a conseguem terminar o mandato sem ser derrubados. Em alguns países - Argentina, Bolívia, Chile Peru e outros - alternam-se esquerda e direita, mas ambas têm pouca diferença em suas ações. Quem perde as eleições costuma dizer que o adversário ganhador arrebentará o país, mas isso não acontece. Hoje quem vive o drama eleitoral é a Colômbia, onde a esquerda luta para vencer as resistências do povo conservador e amedrontado pela ação da guerrilha. Aqui no Brasil vivemos um momento importante. Polarizam para a presidência Bolsonaro (direita) e Lula (esquerda). Patinam os que pensam poder criar uma alternativa a ambos, que apelidaram terceira via. Alguns - como João Dória e Rodrigo Pacheco - já jogaram a toalha. Diante da incerteza, o povo tem dúvidas e há o risco de se votar como “boiada” em vez de conscientemente. Quatro meses nos separam da eleição - que ocorrerá a 2 de outubro - e o embate já começa. É importante que o eleitor, em vez de escolher seu candidato por ideologia ou paixão, o faça racionalmente. Verifique qual deles poderá fazer melhor e só depois disso faça a sua escolha. Isso deve valer tanto para presidente da República quanto para governador, senador e deputados (federal e estadual). Antes de bater o martelo, procure no jornal, na internet ou até com pessoas de sua confiança, saber o que fez - de bom ou ruim - aquele que lhe pede o voto. O voto é a única arma do cidadão e é jogado fora quando dado ao candidato que não atende às aspirações e solução de problemas da comunidade. Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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