Quando aos trancos e barrancos fiz o curso ginasial (o único diploma que possuo), mesmo sem ser bom aluno (antes e pelo contrário) eu gostava, pasmem, das aulas de Latim. Não do ensino da língua, mas porque o professor gostava de fazer algumas divagações pela área da filosofia. Ele citava muito um livro de Mira Y Lopez, Os Gigantes da Alma, querem quatro: o medo, a ira, o amor é o dever. Ele era fascinado por esse livro. Achava que os quatro gigantes podiam, cada um a seu modo, sem extrapolação, levar o ser humano ao caminho da perdição. Na minha ignorância achava que o amor e o dever podiam ser gigantes, mas eram positivos. Mas o professor entendia que podiam virar obsessão. Alguns anos mais tarde adquiri o livro. Li, realmente um grande livro, que perdi numa mudança de casa. Ontem desci à portaria do prédio e dois moradores (os dois professores) estavam discutindo sobre esse livro. Ouvi um pouco mas nada disse. Só me lembrei do professor de Latim com os olhos grelhados por detrás das lentes fundo de garrafa discorrendo sobre o livro. Continuo achando que o dever e o amor são gigantes positivos. Mas concordo que virando obsessão se tornam negativos e prejudicam a alma. Que bom seria viver num mundo sem medo e sem ódio. Inté.
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