Enquanto o vento soprava e as folhagens secas iam esvoaçando, eu olhava o mundo, e todo o seu colorido se tornava em preto e branco. Eu não tinha ilusões. Os anos foram passando, a ventania foi aumentando, e o colorido das ilusões em outono se tornou. Não, não bastam as ilusões da grandeza, da imortal beleza, dos egoísmos e das vaidades. Tudo passa. Por mais que os olhos do mundo queiram sempre avistar as cores de sua conveniência, basta o silêncio e a reflexão para que as reais cores, os verdadeiros matizes, surjam no olhar interior. É dentro da gente que está a compreensão de tudo. E não adianta fingir. E sábio será aquele que souber avistar as reais cores da vida perante as ilusões dos brilhos e das fantasias. Eu tive sorte sim. Desde o passado que não me deixei levar por tais ilusões. Enquanto tudo brilhava, eu avistava os ocres outonais. Eu avistava por dentro o acinzentado do mundo. Eu via em preto e branco o que fingem ter outras cores. E hoje, quando olho ao redor e vejo o vento soprando, as folhagens esvoaçando, então digo a mim mesmo: Tudo passa... Nota do Editor: Rangel Alves da Costa é poeta e cronista. Mantém o blog Ser tão / Sertão (blograngel-sertao.blogspot.com.br).
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