Está cada dia mais inviável a decolagem de uma “terceira via” nas candidaturas a presidente da República. Sonho de muitos brasileiros que se sentem alijados na polarização Bolsonaro-Lula (ou Lula-Bolsonaro), essa alternativa já perdeu a esperada adesão do União-Brasil (resultado de DEM e PSL) e patina com os tucanos, onde João Dória ganhou a prévia mas não consegue se impor aos dissidentes de sua candidatura. Depois da desfiliação de Geraldo Alckmin, hoje declarado candidato a vice-presidente de Lula, destacados tucanos namoram a candidatura da senadora Simone Tebet (MDB/MS) e o ex-governador paulista ameaça judicializar a questão. Isso dividiria ainda mais o partido, que já teve a dissidência da Eduardo Leite - ex-governador do Rio Grande do Sul - que, após perder a prévia, deixou o cargo num sinal de que ainda está disponível para alguma solução de emergência. O certo é que a política da forma que foi encaminhada nas últimas três décadas, embora priorizasse o discurso genérico da democracia, foi desenvolvida mais na direção da formação de líderes incontestes - com feições de caudilhos - que se contrapõem. E o povo recebeu o estímulo para idolatrar em vez de analisar as ações de seus políticos. O resultado é que agora temos: uma multidão que apóia Bolsonaro, outra que diz preferir Lula e poucos dispostos a apoiar a terceira via, onde nomes medianos da política - a maioria sem expressão nacional - tentam se transformar em forças, mas não têm a humildade de reconhecer a própria inviabilidade e direcionar sua ação e militância a outro pretendente que reúna melhores condições para a tarefa. Parece simples, mas a participação na montagem de uma força alternativa para o encaminhamento político da Nação é algo mais complexo e exigente de renúncias pessoais. Para poder se aproximar dos ditos líderes populares, o grupo teria de escolher um nome de consenso e com ele marchar durante a campanha e até as eleições. Decolado o nome de consenso, os demais veriam suas chances se esvaírem, especialmente porque há a reeleição, quem se eleger certamente concorrerá a um segundo mandato. Muitos dos pretendentes não chegarão ao final dos oito anos vindouros ainda com vigor físico e plenas condições para enfrentar a luta. A política brasileira é cheia de imprevistos. Um dos maiores foi a ascensão de José Sarney que, deixando a presidência do partido que apoiava os governos militares, acabou tornando-se vice do oposicionista Tancredo Neves e com o adoecimento deste na véspera da posse e morte tempos depois, assumiu o governo. Fernando Collor, que prometia um Brasil novo, especialmente acabar com os “marajás” do serviço público, foi atropelado pelo impeachment que levou o vice Itamar Franco ao poder. Itamar produziu o Plano Real, que baixou a inflação, mas deixou os louros da vitória para Fernando Henrique Cardoso (seu ministro da Fazenda), que se elegeu presidente e conseguiu aprovar a reeleição para cargos executivos, ficando 8 anos no poder. Depois dele veio Lula, o primeiro ex-operário a chegar lá, também governou oito anos. Sua sucessora, Dilma Rousseff, foi afastada ao meio do segundo mandato, assumindo o vice Michel Temer, que não ousou candidatar-se à reeleição. Finalmente, em 2018, Bolsonaro, até então um deputado de pouca expressão, decolou como candidato de direita em oposição aos petistas e seus aliados que pretendiam se reabilitar após o impeachment de 2016. Agora temos Bolsonaro buscando o segundo mandato e Lula - solto da prisão e reabilitado pelo STF que suspendeu suas penas - busca voltar ao Palácio do Planalto. Diferente de Bolsonaro, que reúne multidões, suas aparições públicas enfrentam protestos mas, mesmo assim, aliados acreditam na possibilidade de vitória. O quadro político-eleitoral, como se vê, não traz novidades. É mais do mesmo. Demonstra, apenas, que precisamos de reformas profundas e a sociedade parece desconhecer essa realidade... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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