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Opinião
02/05/2022 - 06h45
As eleições e a crescente apatia do eleitor
Dirceu Cardoso Gonçalves
 

O eleitorado polarizado - uma parte voltada para a direita com Bolsonaro e outra à esquerda com Lula - e os políticos tentando formar a terceira via, mas com dificuldade porque todos consideram a necessidade dessa alternativa, mas não abrem mão de que o próprio nome encabece a chapa “de consenso”. Basta raciocinar um pouco para se chegar à conclusão de que a política nacional enfrenta um sério problema: a falta de comunicação eficiente. Bolsonaro, mesmo com a feroz campanha de desconstrução encetada pelos seus adversários desde antes de sua posse, arrasta a multidão e é aplaudido por onde passa. Lula, reabilitado pelas canetadas do STF, que colocou nulidades nas sentenças a que foi condenado em primeira, segunda e terceira instâncias, não reedita a mobilização popular de outrora e é hostilizado nas raras aparições. E - até agora - nenhum dos que de dispõem a ser a alternativa a ambos conseguiu seduzir o povão.

A única hipótese do porquê chegamos a esse quadro é a incompetência da classe política em se comunicar. Políticos que hoje poderiam estar pontificando e em vias de igualdade com os ditos líderes de massa, não construíram, no tempo certo, o seu patrimônio popular porque preferiram receber as benesses dos governantes de então - primeiro do tucano FHC e depois dos petistas Lula e Dilma - e acabaram naufragando. Não são reconhecidos pelo grande público como viáveis para a tarefa de governar e fazer desenvolver o país. Temos, até o momento, um bando de nanicos com nomes conhecidos (alguns com experiência eleitoral anterior) que não seduz. E, mais uma vez, o eleitorado que não votaria nos polarizados terá de escolher um deles (o “menos pior”, como se diz popularmente) ou partir para o imperdoável voto branco ou nulo e a abstenção, que crescem eleição-após-eleição. Esse protesto pode satisfazer momentaneamente o eleitor, mas é um grande mal à Nação.

Apesar de todo o discurso “democrático” dos que em 1985 assumiram o poder depois que os militares o devolveram aos civis, não tivemos o desenvolvimento político que se apregoou durante todos esses anos. Era mentirosa a crença que se transmitia ao povo de que com democracia de resolveriam todos os problemas do país. Pelo contrário, desaguamos nos malfadados mensalões, petrolão, eletrolão e outros escândalos financeiros onde as empresas estatais foram saqueadas para o governante de plantão poder comprar a maioria dos votos que necessitava para aprovar seus projetos no parlamento. O povo viu tudo isso e hoje não acredita na classe política. É e vidente que há muita gente boa no meio, mas infelizmente, o que dá a imagem do grupo é o negativo dos escândalos apurados e da reversão que forças subterrâneas tentam conseguir, notadamente nos malfeitos levantados pela Operação Lava Jato.

Estamos na véspera da campanha eleitoral. Ainda que veladamente - porque isso é proibido - os pré-candidatos já se expõem. O calendário eleitoral já está em vigor e se desenrolando. Logo teremos as convenções onde os partidos homologarão as candidaturas e em agosto começará a campanha, que seguirá até a eleição, marcada para 2 de outubro. Bolsonaro e Lula - se realmente o petista estiver livre das suas sentenças suspensas pelo STF - têm público definido. É preciso agora saber qual o montante dos que não votariam tanto num quanto no outro. E os pretendentes da terceira via terem de jogo de cintura e até um espírito de renúncia e desprendimento pessoal, para escolher o de maior possibilidade de enfrentamento.

Cada eleição em ambiente polarizado é um desperdício. Com apenas duas opções, uma considerável parte do eleitorado resta frustrada e de má vontade com o governante eleito, independente de quem seja. Se tivéssemos três, quatro ou até mais concorrentes com possibilidade no primeiro turno, a disputa seria mais interessante e o eleitorado restaria motivado. A eleição seria a pretendida festa cívica onde o povo escolhe os representantes de sua preferência. O ideal, mesmo, seria que nem segundo turno existisse e levasse a eleição aquele que maior número de votos conseguisse. Segundo turno é casuísmo que enfraquece o processo e afasta o eleitor...


Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).

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