Temos, pela frente, dias de tensão em Brasília e no Rio de Janeiro, por conta do caso do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado e cassado pelo Supremo Tribunal Federal e perdoado pelo presidente Jair Bolsonaro, com base no dispositivo constitucional que permite privativamente ao chefe do Estado conceder o perdão ou graça a quem tenha sofrido condenação. A Câmara dos Deputados deverá tomar sua posição sobre o problema, dentro do raciocínio de que só podem decidir sobre o mandato popular, os que também são titulares de mandato dado pelo povo. Assim, quem deve decidir o destino da investidura de Silveira é a Câmara, jamais o STF, cujos ministros são nomeados e, por isso, não têm vinculação direta com a representação popular. Depois de tempos de apatia - ou até rendição, como dizem alguns - os congressistas deverão finalmente assumir suas responsabilidades. Na minha modesta opinião, erraram e enfraqueceram a própria representação quando permitiram a prisão de Silveira. Naquela oportunidade deveriam ter avocado o problema e tomado as devidas providências, sem deixar margem para que o outro poder institucional o fizesse. Como não fizeram, hoje pagam pela omissão. A Câmara e demais as instituições da República dispõem de estrutura para resolver interna corporis os seus problemas mas, muitas vezes, não há vontade política de seus integrantes e coisas como a que hoje presenciamos tomam rumo indesejado. Recorde-se que além do caso do parlamentar carioca, o suprema corte, numa atitude no mínimo incomum, também determinou a instalação da CPI da Covid, e o Senado obedeceu passivamente, ensejando a montagem daquele grupo de natureza circense que fez tanto barulho sobre a pandemia, tentou incriminar o presidente da República e não conseguiu. Só serviu para gastar o dinheiro público em ações personalistas de seus membros e terminou desacreditada. Deputados, senadores, o presidente da República e os titulares de todos os poderes institucionais precisam observar rigorosamente a liturgia de seus postos e jamais invadir seara alheia. Isso, em vez de resolver os problemas, acaba criando outros, por vezes mais graves que os originais. No caso de Daniel Silveira, a Câmara dos Deputados deveria ter acionado o conselho de ética para analisar as suas declarações consideradas ofensivas aos ministros do STF e geradoras da crise. Essa providência não levaria, necessariamente, à cassação do mandato do parlamentar, mas não deixaria espaço para que os ofendidos buscassem a justiça pelas próprias mãos e com isso ocorresse a crise institucional hoje lactente. Cada qual - eleito ou nomeado - tem o dever de agir para o deslinde dos problemas surgidos no órgão a que pertencem, sob o risco de, não o fazendo, levar a quadros inusitados. A primeira imagem pública criada quando a Câmara permitiu a prisão de Silveira foi a da existência de grande número de congressistas “pendurados” com processos no STF, que teriam entregue a cabeça do colega para salvar a própria. É difícil acreditar que isso realmente tenha ocorrido. Mas, na outra ponta, temos visto ações extremadas tumultuando a relação dos poderes que, pela Constituição, devem ser “harmônicos e independentes”. Os senhores das instituições precisam ter em mente que só o Estado (conjunto dos três poderes) é soberano. O mesmo não ocorre com seus operadores - presidente, parlamentares e ministros - que, apesar do poder que enfeixam, têm obrigações e limitações. Se atuam fora dos respectivos “quadrados”, geram a crise e o mal-estar à Nação... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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