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Opinião
22/04/2022 - 06h14
Economia crescente, distribuição injusta
Dirceu Cardoso Gonçalves
 

Apesar dos problemas causados pela pandemia da Covid-19 e do ameaçador reaquecimento da dengue, a economia do país passa por um bom momento. Tanto que bancos, consultorias e o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisaram a elevação do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro antes prevista em 0,3% para 0,8% neste ano. São fatores que alavancam o crescimento a alta nas vendas do varejo, a liberação dos saques no FGTS e a valorização internacional dos produtos que exportamos. No mês de março, por exemplo, as exportações do agronegócio brasileiro somaram US$ 14,53 bilhões, um recorde para o mês, 29,4% maior que o realizado no mesmo período do ano passado. Num tempo tão conturbado, isso é prova de vigor da economia.

A bestial guerra política que se trava em ambiente polarizado tem levado os agentes dessa luta a tentar fazer o povo acreditar que o país está quebrado por culpa de seus adversários. Mas o melhor é verificar que o país “não está quebrado” e que seu desempenho econômico pouco depende dos políticos, bastando que estes não atrapalhem (mas infelizmente, atrapalham). É de se esperar que os candidatos deste ano façam campanhas propositivas e digam claramente ao eleitor o que pretendem realizar caso sejam eleitos. Chega de culpar o adversário, mesmo que esse reconhecidamente tenha alguma culpa. Não é no âmbito de uma campanha eleitoral que se vai corrigir os vícios e descaminhos. Isso é um problema que se arrasta por décadas e demorará um bom tempo para se resolver.

O agronegócio é o grande trunfo brasileiro dentro de um planeta que corre o risco da escassez de alimentos para a população que já chega a quase 8 bilhões de indivíduos. A tecnologia que desenvolvemos para produzir mais em menor espaço somada à disponibilidade de terras, nos coloca em posição de vanguarda. Só não veem isso os contumazes rufiões da ecologia, que desenvolvem o ativismo político e disso tiram vantagens em vez de proteger o planeta e o meio ambiente. O ecossistema é apenas a bengala que usam para buscar seus objetivos e, principalmente, ganhos em larga escala. O certo é que somos grandes produtores de grãos e de pecuária e ainda temos uma boa folga para aumentar a atividade sem adentrar às terras de preservação, hoje escandalosamente transformadas em munição política.

O maior problema brasileiro - e que faz a população até passar fome - é a má distribuição da renda. Governo e sociedade precisam trabalhar para garantir oportunidade de trabalho e renda à população. Os desempregados precisam ser oportunizados e estimulados a buscar qualificação e colocação no mercado de trabalho. Na medida do possível, os programas sociais que distribuem auxílios sem contrapartida têm de migrar para a condição de atividade econômica. É necessário encontrar os meios para seus integrantes em idade laboral terem ocupação lícita e possam voltar a se orgulhar de viver às próprias custas e não da caridade oficial ou particular. Caridade só para os desvalidos que, via de regra, em alguma fase da vida, já produziram e contribuíram para a economia nacional.

Quando se passa os olhos sobre as condições gerais brasileiras, chega-se à conclusão de que os nossos problemas não são rigorosamente de escassez, mas de má distribuição dos recursos, falta de estruturação adequada nos serviços públicos e vícios que sempre atravancaram a Nação e, dia mais, dia menos, terão de ser enfrentados e combatidos para deixarmos de ser o eterno país do futuro e adentrarmos a um presente que favoreça a todos os brasileiros. O principal já temos na economia, gerada por muito trabalho da iniciativa privada e por ações onde o governo não os atrapalhou. Precisamos agora encontrar o equilíbrio, onde o setor privado possa atingir o máximo de sua capacidade e o poder público abandone os vícios e também atue de forma moderna e sustentável para beneficiar a todos os brasileiros e não apenas uma parte privilegiada da população, como o funcionalismo de supersalário. Temos, por exemplo, de reduzir a grande diferença entre o maior e o menor salário para, na divisão do bolo, cada cidadão ter garantida a parcela que lhe seja justa e suficiente para seu sustento...


Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).

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