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Opinião
16/03/2022 - 05h58
A China, fiel da balança na guerra
Dirceu Cardoso Gonçalves
 

Enquanto as emissoras de televisão de todo o mundo transmitem a guerra “direto” e “ao vivo”, dando ao grande público imagens fortes de conflito Rússia-Ucrânia, as atenções se voltam para a China. Aquele país - que hoje detém a maior economia do mundo, suporta muitos problemas políticos e estruturais e avança em todas as direções - deve ser o único mediador em condições de conseguir o cessar-fogo. Sua formal neutralidade, já que não apoiou as sanções que o mundo ocidental impõe à Rússia, reúne condições para dialogar com o presidente russo Vladimir Putin, com o ucraniano Volodymyr Zelenski e com as diferentes forças mundiais, das quais é parceira econômica. E tem de agir rápido, porque a guerra fez explodir o preço do petróleo e a inflação em todo o mundo a níveis que a economia globalizada não suportará. Se continuar teremos um desastre econômico muito maior que o de 1929, quando a Bolsa de Nova York quebrou e muitos passaram fome ao redor do mundo.

Especialistas lembram que - diferente dos radicais tempos de Mao-Tsé Tung e de sua geração, a China de hoje, não é mais aquela ditadura inflexível como também foi a soviética. Apesar de mantido o regime de partido único, o país mostra externamente o seu viés econômico como potência industrial em franca expansão, condições de oferecer ao mercado produtos cada vez melhores e a cruel necessidade de produzir e importar alimentos para suprir a sua população de 1,4 bilhão de habitantes, a maior entre os países do planeta.

Dentro de suas relações econômicas, a China é parceira de praticamente todo o mundo, especialmente União Européia, com quem o volume anual de transações é de US$ 828 bilhões e Estados Unidos, com US$ 657 bilhões. A Rússia é um parceiro menor (US$ 147 bilhões), boa parte disso em energia e alimentos fornecidos aos chineses. A grande tarefa da diplomacia de Pequim nesse momento é buscar uma saída honrosa para Putin e Zelenski e a garantia de integridade do território ucraniano. Os russos já viram que a tomada da Ucrânia não é tão fácil quanto se imaginava; agora é necessária a ação de bombeiros para apagar o fogo, sendo os chineses os mais indicados. Nada impedirá, no entanto, que outros governos como, por exemplo o brasileiro, parceiro de ambos os conflitantes, também venham a contribuir.

A China caminha a passos largos em todas as direções. Fornece seus manufaturados para todo o mundo e recebe matérias-primas e alimentos. Também investe em negócios que no futuro possa lhe garantir além de rendimento e ocupação para cidadãos chineses, mercadorias que aquele país necessita para alimentar a população. O formato diferente de governo e principalmente sua história do último século tornam o país questionável no ocidente. Mas sua presença econômica é uma realidade que ninguém pode ignorar, inclusive o Brasil. Erram os que procuram analisar ideologicamente a China. O país tem muitos problemas a resolver e estes são potencializados pelo tamanho da população. O que cada país parceiro precisa é estabelecer regras claras para o seu relacionamento internacional e fugir da anacrônica discussão ideológica e dos fantoches de direita e esquerda, ditadura ou democracia. Temos de ser pragmáticos em nossas parcerias, estabelecendo relacionamento naquilo que for de interesse mútuo e afastando as diferenças. A rigor, não devemos dar palpite nas atividades internas da China e jamais admitir que os chineses o façam aqui. A isso se dá o nome de soberania.

Quanto à guerra Rússia-Ucrânia, esperamos que por ação da China ou de outro agente mediador que se mostre apto, o cessar-fogo ocorra o mais breve, parem de morrer inocentes, a paz volte a reinar na região, os refugiados possam voltar e os danos do conflito sejam reparados. E que os governantes dos países envolvidos mais Estados Unidos, Europa e outros interessados nem imaginem reeditar algo parecido com a guerra fria que tanto mal causou a o mundo no pós-guerra, de 1947 a dissolução da União Soviética, em 1991.

O mundo tem pressa. Que a paz seja restabelecida antes que as dificuldades da guerra se espalhem e multipliquem a miséria e o sofrimento, principalmente entre as populações mais pobres...


Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).

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