Sempre que me perguntam por que os jovens não se interessam por Política, respondo que, na verdade, é a Política que não se interessa pelos jovens. Afinal, política é uma experiência e exige prática. Onde e quando os jovens têm acesso a isso? Nas escolas, nos clubes, na igreja, na balada, em casa? Praticamente em lugar algum. Além disso, Política é informação. O ex-presidente Barack Obama já disse que “o grande problema da nossa democracia é que não compartilhamos uma base comum de fatos”. O pensador Norberto Bobbio afirmava que a Política é como um jogo que exige conhecermos as suas regras. Ou seja: sem conhecimento e sem experiência, como gostar de Política? É um pouco o que acontece comigo com o beisebol, por exemplo. Não posso dizer que é um jogo ruim. Mas posso dizer que não gosto de assistir beisebol. E por que eu não procuro saber? Porque há muitos outros esportes para gostar e nunca ninguém fez nenhum esforço para me convencer a conhecer as regras do jogo do beisebol. Ou seja: eu tenho outros interesses e, até aqui, não houve o esforço de ninguém para que eu me interessasse por esse jogo. Com a Política e os jovens acontece algo parecido. Jovens são atraídos por múltiplas atividades: música, séries, jogos on-line, redes sociais, amizades, namoros, baladas, esportes, igreja, passeios etc. e tal. Por que se interessariam por Política se ninguém faz um esforço para isso? Dizer que é “obrigação" deles é um argumento sem apelo desde sempre. Se o argumento do “eles precisam saber o que é importante” fosse eficiente, não teríamos problemas com violência, drogas, obesidade, acidentes e as notas nas escolas seriam um mar azul. Nós, adultos, somos os responsáveis pelo funcionamento deste mundo e por legar aos mais jovens o que há para ser preservado, deixando a eles a tarefa de trazer novas ideias e agitar as coisas para as novas gerações. Precisamos estabelecer com os jovens um destino em comum, um repertório de coisas a fazer e a preservar que nos impliquem porque fazem sentido para nós. Mas, via de regra, não pensamos assim: fazemos pouco, ou quase nada, e cobramos responsabilidade deles sobre o que nem tiveram oportunidade de conhecer. É uma fórmula do fracasso certo. E é o que tem acontecido. No Paraná, em 2018, 82 mil eleitores com menos de 18 anos tiraram o título de eleitor para as eleições daquele ano, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral. Em janeiro de 2022, apenas 35.500 jovens fizeram o mesmo, isso em um universo de 310 mil possíveis eleitores entre 16 e 18 anos de idade. A diferença é capaz de eleger um deputado federal ou quase três deputados estaduais, além de poder decidir uma eleição para senador e fazer alguma diferença até mesmo para a eleição do presidente, que promete ser acirrada. Ou seja, o voto do jovem faz diferença, e muita. Por que não há esforço público para formar eleitores? Por que não há um trabalho progressivo e contínuo nas escolas, desde as primeiras séries do ensino fundamental, para ensinar as regras e, principalmente, praticá-las, criando uma cultura política entre os jovens? Por que não nos interessamos em compartilhar com eles um projeto de país? Ou, talvez, tenhamos de dar razão ao presidente francês, Charles De Gaulle, que respondeu, quando soube que por aqui dizemos que somos o país do futuro: “E, pelo jeito, serão ainda por muito tempo.” O que não faz sentido é atribuir aos jovens o desinteresse por algo sobre o qual eles não tiveram oportunidades efetivas de aprender, praticar e gostar. Como no jogo "quente, morno, frio", a Política é algo que acaba sempre largada em algum canto do quintal, abandonada, esquecida, enquanto os sempre agitados e criativos jovens buscam outra coisa divertida para fazer. Nota do Editor: Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica e professor no Curso Positivo.
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