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Opinião
09/02/2022 - 05h49
A pandemia dos não vacinados
Dirceu Cardoso Gonçalves
 

Levantamento do Hospital Emilio Ribas, centro de excelência de infectologia de São Paulo, revela que a cada cinco internados com Covid, quatro não tomaram a vacina ou estão com doses atrasadas. Nos últimos três meses, 85% dos pacientes que ali morreram pela ação e consequências do coronavírus não tinham a vacinação completa. O hospital, integrante da rede pública paulista, registra atualmente a ocupação de 100% dos leitos destinados ao tratamento de Covid.

Pesquisadores da Fiocruz (Fundação Osvaldo Cruz), que monitoram a ocupação das UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) em todo o país revelam que por causa da variante ômicron, o quadro começou a mudar muito rapidamente em novembro, que foi o primeiro mês desde o começo da pandemia em que todos os estados tiveram menos de 60% dos leitos ocupados Uma importante rede de hospitais privados - que administra 60 estabelecimentos em 12 estados - informou que no fim de dezembro haviam 200 pacientes internados e hoje são 1400. Segundo a empresa, a maioria é composta por pessoas com o ciclo vacinal incompleto, com comorbidades e idade avançada.

São muitos os casos de indivíduos que, por alguma razão, recusaram a vacina, arrependeram-se quando adoeceram e, parte deles, já estava decidida a vacinar-se, mas não deu tempo, porque morreu. Os que sobreviveram, além de vacinar, passaram a aconselhar a imunização. Esse quadro leva especialistas envolvidos no processo a considerar que vivemos, no Brasil, a pandemia dos não vacinados. É uma situação perversa pois de um lado temos as autoridades sanitárias aconselhando as vacinação e, de outro, os que rejeitam a imunização porque a droga ainda não teve a maturação do seu desenvolvimento. Em vez dessa discussão improdutiva, deveriam as duas partes, de forma civilizada e com a devida responsabilidade, se reunir e tirar uma conclusão lógica da melhor medida a aconselhar nesse momento de incertezas. Se vacinar-se mesmo com a possibilidade de correr riscos de saúde no futuro ou, não se vacinando, ficar exposto aos efeitos da Covid, que podem matar.

É certo que alguma coisa tem de ser feita para enfrentar a pandemia e sua infestação. Os laboratórios e centros de pesquisa desenvolveram as vacinas e as têm à disposição da população. A falta de um entendimento médio sobre o melhor procedimento levou à discussão e polarização que fez muitos incautos preferirem ficar expostos ao coronavírus e pelo simples fato de não saberem “o que há dentro das vacinas”. Os protagonistas dessa discórdia são, de certa forma, culpados pela morte e pela nova onda de internações dos não vacinados. Evidente que jamais serão chamados a responder pela consequência de seu proselitismo carregado de outras intenções - até as político-eleitoreiras, infelizmente - mas deveriam, pelo menos, ser contidos nessa militância estúpida. Se por um lado não se tem informações sobre os efeitos de longo prazo da vacina, são palpáveis os danos de curto prazo para quem não se imuniza. E nós, brasileiros, os estamos conhecendo da pior foram: vendo milhares de compatriotas morrer...

A pandemia está reaquecida. Oxalá não se repitam as desumanas filas de internação e a demora de dias para o encontro de vagas aos que correm o risco de morrer. Ativistas, políticos, artistas e outros indivíduos com opiniões formadas tanto pela vacinação quanto contra ela, deveriam se calar para que de sua militância não resultem ainda mais mortos por se vacinar ou por deixar de se vacinar. A obrigação de orientar a população sobre o que fazer é das autoridades sanitárias, que não podem se quedar à política, ao ativismo e nem ao interesse de grupos. Sempre que esses elementos entram em cena, só conseguem tumultuar o processo e prejudicar ainda mais a população. Todos têm o direito a manter suas opções e desconfianças, mas quando surgem estatísticas e constatações como a dos especialistas do conceituado Hospital Emilio Ribas, é preciso levá-las em consideração pois decorrem da vivência do problema. Falar e orientar sobre a vacinação é dever dos que administram a Saúde Pública. E , como se diz popularmente, sapo de fora não deve chiar...


Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).

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