O intolerável embate político-ideológico que em prejuízo do país, mira única e exclusivamente as eleições vindouras, desfila figuras bastante conhecidas - algumas que já ocuparam destacadas posições de governo - afirmando que o país se encontra em grave crise, que os próximos meses ou anos serão difíceis, e outras previsões sinistras. Mas, ao mesmo tempo, noticia-se que a receita tributária de 2021 foi de R$ 1,8 trilhão, isto é, um aumento de 17,3% em relação a 2020. Só os tributos pagos pela indústria - Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido - ampliaram-se em 31,3%. Esses são os números divulgados nos últimos dias. Mas pouco antes ficamos sabendo que a balança comercial brasileira fechou 2021 com sobra de US$ 61 bilhões. Exportamos US$ 284,394 bilhões e importamos US$ 219,396 bilhões. Prova de que, apesar das dificuldades impostas pela pandemia e pela administração temerária que levou às quarentenas, lockdowns e paralisação de atividades econômicas, a economia nacional, graças ao comprometimento de nossos empreendedores, continua funcionando e não se apresenta combalida, como afirmam os falsos profetas do apocalipse econômico. Alguns indicadores não permitem que quem enxergue e pense pelo menos um pouquinho concorde que o país está na bancarrota. Os lançamentos imobiliários continuam, as transações na área ocorrem principalmente na faixa de preços mais elevados. O mercado de automóveis é francamente comprador e, na falta de veículos zero quilômetros - que as montadoras não conseguem finalizar por falta de componentes - ocorre o inflacionamento dos semi-novos que, atipicamente, chegam a custar mais caro do que o preço nominal do novo do mesmo modelo. Reclamar que as coisas estão difíceis é habito dos brasileiros, especialmente de empresários que, com isso, tentam evitar gastos que não lhes pareçam necessários e buscam criar clima de mudanças que lhe possa favorecer. Tais figuras, mesmo quando a economia fluía a todo vapor, chorar miséria, com os cofres e bolsos cheios. Os grandes prejudicados pela pandemia foram comércio, serviços e principalmente os praticantes da microeconomia atingidos pelas draconianas medidas de isolamento e paralisação impostas por governadores e prefeitos em 2020 e 2021. Muitos pequenos negócios não resistiram e empreendedores individuais, assim como ambulantes, que “vendem o almoço para comprar a janta” ficaram abruptamente sem renda. Os auxílios do governo minimizaram o problema mas, como todo auxílio, não supriram todas as necessidades. Tanto é que dias atrás se anunciou o aumento da população em situação de rua na cidade de São Paulo e assim deve ser por toda parte. Na verdade, o grande prejudicado é o d a prateleira de baixo da economia ou, na linguagem popular, repete-se o ciclo vicioso da briga do mar contra o rochedo, onde quem leva a pior é o marisco, que nada tem a ver com a contenda mas está entre os contendores. É preciso compreender as especificidades da economia brasileira. Tivemos a industrialização ao longo de todo o Século 20; governos ousados investiram dinheiro público na produção e governos relapsos não desinvestiram quando os setores ganharam autonomia. Considerável parte dos agentes políticos e econômicos é viciada no estado-empresário que lhes possa dar vantagens. Isso obriga a arrecadação de tributos para cobrir a má gestão. A classe política parece não ter consciência da necessidade de separar o dinheiro público do particular e, em vez de facilitar as privatizações e desestatizações, faz questão de mantê-las e, se possível, delas tirar proveito. Nesse ano, o eleitor terá novamente a oportunidade de votar pela eliminação dos vícios e impropriedades que atrasam o país. Oxalá surjam candidatos conscientes dessa necessidade e capazes de fazer sua mensagem chegar à população. Que os eleitos, possam promover a modernização em bases mais sólidas e justas com o povo e menos complacente com as elites. Diferente do pessimismo que muitos figurões do passado pregam diuturnamente, esse é um país viável, mas precisa de ajustes e eliminação de privilégios. É o preço a pagar para evitar o risco da explosão social. Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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