Mal começa o ano, saem alguns amigos e amigas do caminho da vida, como o companheiro dos tempos de adolescência, no Seminário Arquidiocesano da Paraíba, Antônio Fonseca, ilustre acadêmico, médico e escritor, das terras de Itaporanga, que ele chamava de Misericórdia. E continuam vidas corridas às carreiras, no frisson da competitividade, alguns preocupados a sempre ganharem mais e mais poder aquisitivo, para adquirir mais bens materiais que lhes proporcionem conforto, e talvez, quem sabe, despreocupações... Vidas corridas, quando não lhes sobra tempo para nada, tão somente para o trabalho, e se ele for remunerado e compensador. Nesse aspecto, a profissão vem perdendo o sentido da sua finalidade, na sociedade: O professor não seria para ensinar; o médico, para curar; o servidor público, para prestar serviço público. O motivo do trabalho ficou tão vinculado à produção que o genial Oscar Wilde assim advertiu: “Vivemos numa época em que as pessoas são tão trabalhadoras que ficam estúpidas”. Enfim, não trabalham para sobreviver, vivem para trabalhar, subestimando os momentos com as amizades e as famílias... Por outro lado, escutei, muitas vezes, meu professor Joffre Dumazedier, sociólogo francês, exaltar os que não trabalhavam, reservando o devido tempo ao descanso, ao lazer, na sua Sociologie du Loisir. Até citava os que militavam, radicalmente, por esse prolongado lazer, dispensando-se do mundo do trabalho, ao vestirem a camisa do “não trabalhador” (No Worker). Por outro lado, quem cuidaria de produzir o suficiente ou o necessário para todos? Sabemos que, há muito tempo, louva-se aquele que trabalha; quem, socialmente, dedicar-se ao trabalho enobrecer-se-ia. Embora que os que, quase mecanicamente, labutam, sejam camponeses, operários, gerentes ou executivos, que não demonstram cara de alegre, durante suas atividades, nem tampouco logram êxito de destaque, na pirâmide das categorias sociais... Veja-se isso no filme de Elio Petri, A Classe Operária Vai ao Paraíso, protagonizado por Gian Maria Volonté. Volto àqueles que se põem às carreiras do dia a dia, e até pensando que desconfiam estar ameaçados pelos milhões de desempregados, cifra, na realidade, social e economicamente assustadora. A história do leão e da gazela era sempre colocada exposta nos refeitórios das fábricas europeias, como texto predileto dos patrões aos seus operários: “Toda manhã, na África, uma gazela desperta. Sabe ela que deverá correr mais depressa do que o leão ou será morta. Toda manhã, na África, o leão desperta. Sabe ele que deverá correr mais do que a gazela ou morrerá de fome. Quando surge o sol, não importa se você é um leão ou uma gazela. A melhor decisão é começar a correr”. Como humanos, conscientemente racionais, não deveríamos refletir e planejar uma convivência social, menos competitiva e selvagem do que essa da floresta, entre o leão e a gazela? Enfim, correr para matar ou para fugir da morte ou excluir os outros para poder viver é uma guerra insana, geradora de esquizofrenia e de todo tipo de violência. Distintas são as diferenças entre os indivíduos, pois as pessoas ativas se impacientam mais com o tédio do que com o trabalho...
|