Os últimos dois anos foram muito difíceis para todas as pessoas do planeta. Tivemos que conviver com a possibilidade de morte de pessoas próximas de um momento para o outro e o que mais agravou esse período foi a sensação de que não havia nada que podíamos fazer para evitar essa situação. Como professor e historiador até tentei manter a racionalidade e a confiança na ciência, mas confesso que às vezes cheguei a pensar “não tem jeito, a natureza venceu”. O ano de 2020 trouxe o pior e o melhor da humanidade, pois vimos situações de extremo egoísmo, como, por exemplo, a corrida aos mercados no início da pandemia, gerando uma grande especulação nos preços. Por outro lado, também vimos muitas pessoas tentando ajudar as outras compartilhando produtos e, em alguns casos, com ajuda financeira. Pesquisadores do mundo inteiro uniram forças para encontrar uma vacina num prazo nunca antes visto. Infelizmente, também vimos líderes mundiais “remarem” contra o processo, desdenhando do isolamento social, criticando as pesquisas científicas e propagando as mais variadas desinformações. Nós, como “meros mortais”, vimos surgirem remédios e tratamentos “milagrosos” que num momento seguinte, não serviam para tal propósito. A mim, parecia que estávamos correndo cada um para um lado e a situação só se agravava. As escolas fizeram o que puderam para manter seus alunos em contato com o conhecimento - aulas remotas, avaliações on-line, lives etc. - e nós, professores, entramos num universo que só era conhecido pelos youtubers. Eu, por exemplo, além das videoaulas, acabei criando um podcast de história e entretenimento, contudo, nossa vida privada foi invadida, pois transmitíamos de nossas casas e, por isso, cometemos várias gafes, viramos memes, mas acredito que conseguimos minimizar um pouco a situação, pelo menos no que diz respeito à educação. O ano de 2021 começou cheio de esperanças, pois a vacina foi desenvolvida por vários laboratórios diferentes e com o grande desafio de vacinar toda a população em tempo recorde. É claro que a campanha de desinformação continuou, mas pude ver que neste ano houve grande diminuição de “fake news”. A minha impressão é que as pessoas, de maneira geral, se convenceram que a ciência e as pesquisas eram realmente o único remédio contra a pandemia. Nas escolas, vivemos a realidade do ensino híbrido - alunos via on-line e presencial -, o que nos obrigou a adaptarmos nossas aulas para as duas modalidades, ao mesmo tempo. Novos desafios que acredito, conseguimos superar com maestria. Estamos fechando 2021 com mais de 60% da população vacinada e a expectativa é que em 2022, se não houver nenhuma outra surpresa da natureza, a situação das escolas e da sociedade em geral, comece a se normalizar. Mas, como historiador, me pergunto: qual é a normalidade para a sociedade? Sabemos que temos muitos desafios para 2022, pois vejo claramente que fomos muito afetados psicologicamente por todo esse processo ligado à pandemia. Segundo a neuropsicóloga Renata Cravinhos, houve um aumento considerável de pessoas com crises de ansiedade, depressão, problemas de sono, abuso de álcool e drogas, entre outros. Percebo em sala de aula que nossos alunos precisam de um cuidado maior nesse aspecto. Fizemos um trabalho de pesquisa sobre o que eles gostariam de discutir e debater durante o ano e das várias sugestões que recebemos, o tema “saúde mental”, apareceu nos primeiros lugares. Termino este breve texto, pensando de maneira positiva em 2022, já que, como humanista que sou, não posso perder a fé na humanidade. Espero que todo esse processo tenha nos ensinado a sermos menos egoístas e a valorizar o que considerávamos “besteiras”, como uma conversa em família, um fim de tarde na praia, um churrasco entre amigos, um abraço carinhoso, a liberdade de sair de casa sem medo... Nota do Editor: André “Bode” Marcos, especialista em História do Brasil e Gestão Escolar, é assessor de História do Centro de Inovação Pedagógica, Pesquisa e Desenvolvimento (CIPP) dos colégios do Grupo Positivo.
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