O ano - que será de eleições nos níveis federal e estadual - começa com o presidente da República internado, ao que tudo indica, por causa do ferimento e danos intestinais sofridos na facada de que foi vítima na campanha de 2018. O quadro nos leva a lembrar que, passados mais de três anos do crime, ainda não se conhece os autores intelectuais ou seus custeadores. Independente de a vítima ser Jair Bolsonaro, é importante lembrar que se a apuração demorar ou não chegar aos responsáveis, os candidatos a todos os postos eletivos terão concretas razões para temer pela própria vida. Afinal, todo concorrente tem seus desafetos cuja carreira e atuação político-eleitoral poderão ser facilitadas pela eliminação da concorrência. A conclusão de que o agressor, Adélio Bispo, teria agido solitariamente e por conta própria é inverossímil, principalmente em se considerando tratar-se de alguém de baixa capacidade econômica, que dificilmente teria condições de custear viagens e hospedagem nos lugares em que o candidato percorria em campanha. Outra questão pendente é a notícia de sua entrada nas dependências da Câmara Federal no mesmo dia e hora em que desferiu a facada em Bolsonaro. Não tivesse sido preso em flagrante, simplesmente desapareceria e não haveria rastro para investigação. Outro esclarecimento devido é o custeio dos caros advogados que chegaram a Juiz de Fora logo após o atentado. Concluiu-se que Adélio é inimputável por não gozar de plenas faculdades mentais. Ainda assim, mesmo mantendo-o em medida de segurança, a sociedade exige o esclarecimento, tanto para que os efetivos autores da trama sejam identificados e punidos quanto para que as providências desencorajem outros potenciais agressores que sonhem interromper a carreira dos políticos que não lhes sejam caros ou contrariem seus interesses. A impunidade costuma ser o grande indutor dos acontecimentos e, por isso, até por uma questão didática, deve ser evitada. Razões jurídico-culturais fazem a nossa Justiça lenta e travada. Existe uma profusão de recursos e atos protelatórios à disposição dos defensores dos criminosos de colarinho branco e dos que, por alguma razão, têm acesso a experientes e caros advogados. No caso de Adélio, as primeiras questões a esclarecer são como, sendo alguém inapto mentalmente e pobre, teve dinheiro para acompanhar Bolsonaro pelo país; como obteve os serviços de afamados advogados imediatamente após cometer o atentado; e como se explica, no mesmo momento em que deu a facada, contar o registro de sua entrada na Câmara Federal, em Brasília, 734 quilômetros distante de Juiz de Fora. Apuradas essas três vertentes, surgirão os nomes dos integrantes da organização criminosa para quem o agressor trabalhou. Aí bastará o Ministério Público promover a quebra dos sigilos telefônico, fiscal e bancário dos citados para, com isso, obter as provas definitivas do envolvimento (ou não) de cada um. Isso é um procedimento indispensável para se chegar aos criminosos. Se com o presidente da República verificam-se demora dessa magnitude e entraves diversos para seguir as investigações, imagina-se o que poderia ocorrer em crimes do mesmo padrão cometidos contra governadores, deputados, prefeitos e simples vereadores. Isso é um verdadeiro acinte à democracia e tolerância aos esquemas criminosos. Precisamos de solução urgente. Elas interessam tanto a Bolsonaro quanto aos seus adversários e a todo cidadão de bem que, por alguma razão, possa cair na mira de criminosos que os queiram afastar da vida política, social, empresarial ou comunitária. Não apurar é um atentado à segurança da população e, por envolver o governante, à segurança nacional. Que se resolva tudo antes do começo da campanha eleitoral. Só assim os candidatos poderão sair às ruas sem medo nem preocupação com a própria saúde e a vida... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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