Nada mais árido e enganador do que o debate polarizado entre direita e esquerda. Isso porque os seus adeptos - tanto de um lado quanto do outro - subestimam a inteligência do povo e tentam colocar na cabeça das pessoas as utopias que um dia seus preceptores políticos lhes passaram como verdades líquidas e certas. Tanto o direitista quanto o esquerdista defende o Estado paternalista que dê tudo ao cidadão e diz ao cidadão que ele tem direitos e precisa lutar por eles. Mas - por ignorância ou má fé - não falam que todos têm o dever de trabalhar para que a produção resulte na economia e esta custeie o bem-estar. Decorrentes da época da Revolução Francesa - em que os partidários do rei sentavam no lado direito e os oposicionistas à esquerda da mesa que dirigia os trabalhos da Assembleia Nacional, ficou convencionado para o mundo da política que a direita é imobilista e não se interessa por mudanças e a esquerda é progressista e luta para tudo se alterar. Mas a prática tem demonstrado que não é uma coisa nem outra. Principalmente no Brasil, ambas são meras armas de luta pelo poder, sendo que uma se alinha ideologicamente ao mundo capitalista e outra ao socialista. Mas nenhuma coloca a mão na massa para resolver os problemas concretos da sociedade. Pelo contrário, evitam reformas do Estado para manter privilégios de seus aliados fornecedores de votos, e não se interessam pela redução das desigualdades. Tudo isso é usado apenas como proselitismo eleitoral e tentativa de arrebatar votos. Estamos agora entrando para mais um ano eleitoral - elegeremos em 2022 presidente da República, governadores estaduais, senadores e deputados federais e estaduais - e o que temos colocado publicamente nada mais é do que a enfadonha luta ideológica e a troca de ataques mal-educados entre os oponentes. E o mais interessante: direita e esquerda lutam para atrair as forças ditas de “centro” para com elas conseguir formar maioria de votos e ganhar as eleições. Não é à toa que cada dia que passa o povo fica mais descrente da classe política, o que pode ser aferido pelos crescentes índices de não comparecimento do eleitor de uma eleição para a outra. Começou tudo errado esse ano. A campanha se antecipou e a luta sem argumentos acontece. Os potenciais candidatos - tanto a presidente quanto a governadores - priorizam falar mal do adversário e autoelogiarem-se em vez de abordar os problemas que pretendem enfrentar se eleitos. Para ser sério, o candidato deve nominar os problemas, dizer como vai resolvê-los e, também, onde obterá os recursos para tanto. Do jeito que hoje é feito, a classe perde credibilidade e torna as eleições mais frágeis e menos representativas. O resultado disso só poderá ser governos sem compromissos e tendentes a não resolver as questões do povo. Mesmo podendo sondar suas bases para decidir como participar das eleições, os pretendentes deveriam ser mais cuidadosos. Lembrar que o calendário eleitoral fixa o dia 5 de julho para o começo da propaganda eleitoral. Tudo o que se fizer antes poderá ser considerado ilegal e trazer problemas. As lideranças políticas brasileiras precisam se movimentar para passar do discurso à prática. Todos têm de tratar, com a devida seriedade, os problemas que afligem a Nação. Chega de guerra ideológica e de outros procedimentos que escandalizam a sociedade. O povo brasileiro - que todos invocam mas poucos conhecem de fato - quer soluções para os problemas sociais e econômicos que impedem sua vida melhor. Além dos governantes, os parlamentares - senadores e deputados - precisam se apressar na proposição de medidas que tornem o país mais justo e humano. Se não o fizerem, correrão o risco de logo serem descartados. Pensem nisso e evitem a bestial polarização. Coloquem no lugar da contenda a ação pelas reformas, sem as quais o país continuará patinando. Não subestimem o povo que, com as oportunidades de informação e cultura hoje disponíveis não tardará a decretar o esquecimento e o fim da carreira daqueles que não atendem suas expectativas. Jornais, TVs, redes sociais e aplicativos estão aí, à disposição de todos. É bom não brincar... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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