No começo da década de setenta reunimos um grupo grande e fomos em 3 carros na inauguração de uma boate em Ubatuba. Minha mãe autorizava, pois meu irmão mais velho tomava conta de mim e da minha irmã que era dois anos mais velha do que eu, acho que eu era a mais nova do grupo. Chegamos cedo em Ubatuba e ficamos numa lanchonete até às 21h, só então fomos para a boate. Quando eu entrei na boate fiquei surpresa, estava com uma blusa de linha cor de rosa e por baixo vestia um sutiã branco. A blusa ficou escura e o sutiã aparecia inteirinho, conheci pela primeira vez a luz negra. Sem titubear, fui no banheiro, tirei o sutiã e guardei na bolsa. Voltei para o salão e já não aparecia mais nada, porque estava tudo escuro e eu na verdade mal tinha peito. Voltamos 03h da manhã, quando cheguei em casa deixei a bolsa na sala e fomos para o quarto em silêncio, para não acordar a minha mãe e a minha irmã menor, que ainda não nos acompanhava em passeios noturnos. Na manhã seguinte, quando tomava meu café, minha mãe sentou comigo na mesa e falou: - Que história é essa de você sair daqui com sutiã e depois ele voltar dentro da sua bolsa? Fui explicar o que era luz negra para a minha mãe, ela respondeu: - Que estória mais mal contada, vou saber o que você andou aprontando ontem! Deve ter se informado, pois nunca mais me falou sobre esse assunto. Chamo a atenção de vocês para um detalhe, minha mãe vistoriava bolsas e mochilas, cheirava nossos cabelos, se sentisse cheiro de maconha “cortava no couro”, a gente morria de medo. Era uma vigilância sadia, mas hoje em dia é invasão de privacidade.
Nota do Editor: Maria Angélica de Moura Miranda é jornalista, foi Diretora do Jornal "O CANAL" de 1986 à 1996, quando também fazia reportagens para jornais do Vale do Paraíba. Escritora e pesquisadora de literatura do Litoral Norte, realiza desde 1993 o "Encontro Regional de Autores".
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