Se os peixes falassem, eles pediriam aos pescadores para que os devolvessem ao mar; também para que lhes devolvessem o mar. Se os bichos falassem, com certeza seríamos mais humanos. Contudo, haveria vários tipos de pescadores, de diferentes atitudes, com graus de sentimento. Muitos lhes negariam o que fora pedido, porque achariam que Deus fez o mundo para tudo fosse do mar ou terra lhes pertencesse ou se destinasse a tirar proveito, vantagem ou, especialmente, lucro. E responderiam, substituindo o pássaro, proverbialmente: Mais vale um peixe na mão, do que dois nadando. Talvez alguns ficassem em dúvida: devolvê-lo ao mar ou matá-lo para lhe calar a boca. Mas poucos reconheceriam, naquela súplica, o quanto eles próprios lutam para sobreviver. Os meditabundos nem pescariam, convencidos de que amar e respeitar a vida fazem parte da criação, elevando-se de apenas animal para categoria de cocriador, como vislumbra o antropólogo evolucionista Teilhard de Chardin, da ordem jesuíta do Papa Francisco. Os peixes, por sua vez, além de usarem a fala, alertar-nos-iam do óbvio: os peixes pertencem ao mar. Alguns deles saíram aos céus voando, como os pássaros, em busca de qualquer galho de árvore, ou andando como os patos, gansos e cisnes, pela vontade de Deus de assim criá-los, fora dos imaginados sete dias da criação da natureza em evolução. Dizem que os golfinhos, sem eloquência e loquacidade, quase chegam a falar. Lendas amazônicas creem que os botos cor-de-rosa, em noites enluaradas, conquistam as nativas nuas, banhando-se, nos rios ainda escondidos entre as altas árvores das florestas virgens, daquelas bandas. E que acontecem por ali fenômenos considerados sobrenaturais. Nunca estive vendo a vegetação e as pedras, no mais fundo do oceano, que me causam intensa curiosidade. Por lá, quem sabe, encontraríamos coisas nunca vistas, sem necessidade de irmos a Marte ou a outras galáxias. Quiçá melhores, não acontecendo maldades urbanas, do dia a dia, existam, segundo alguns crentes ufólogos, como o estudioso Severino Elias Sobrinho, enormes naves espaciais submersas, construindo cidades inteiras de extraterrestres, que saibam, sabiamente, melhor do que nós, conviver com as mais puras maravilhas da nossa inexplorada natureza e preservá-la. Os tubarões desistiram de aprender a falar. Usam seus próprios afiados dentes, nos nossos balneários e praias, como defendessem que o mar é deles; ou que “devolvam-nos o mar”. Ainda se falassem, reclamariam os dejetos, lixos, sacos plásticos, e toneladas de petróleo, que sacodem ao mar, reduzindo-lhes a vida, do meio ambiente, que é tão sagrado como nosso próprio lar. Há quem pesque por deleite ou lazer, pegado o peixe, tira uma self, vibra conforme o tamanho do pescado e, depois, solta-o para a vida, na intenção de voltar a pescá-lo. Dizem ser terapêutico pescar, mirando demoradamente a água, que nos acalma e cura, propicia paciência. Imagine-se, caro leitor, horas e horas, segurando um anzol, diante de um buraco de tatu, à espera da caça... Os peixes, mesmo calados, têm-me falado, até inspirado crônica ou poesia, enfim, melhor do que pescar é soltar o peixe.
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