De uma dezena de pretensos candidatos à presidência da República na condição de terceira via, dois já se apresentaram, um desistiu e outro foi preterido na complicada prévia do seu partido. Existem ainda seis para se definirem. A terceira via, no sentido em que foi pensada, seria a união, em torno de um candidato, de todos os que não se alinham à direita de Bolsonaro nem à esquerda de Lula. A filiação de Sérgio Moro ao Podemos foi o primeiro ato, seguido da desistência do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandeta (DEM), que anunciou o propósito de concorrer à Câmara dos Deputados porquê, para presidente, apoiará o ex-juiz. No fim de semana, o fechamento da previa do PSDB fez do governador de São Paulo, João Dória, o virtual candidato tucano à presidência e descartou o também governador (do Rio Grande do Sul) Eduardo Leite. O próximo lance do processo de construção da candidatura de terceira via, seria a negociação entre Moro e Dória e daí surgir o candidato que reconhecidamente reunir e demonstrar melhores condições para enfrentar Bolsonaro e Lula com possibilidade de vencê-los. E assim sucessivamente, até se encontrar o concorrente consensual do grupo. Nessa altura é que começam as dificuldades. Ninguém sabe até onde cada postulante - tanto os já declarados quanto os que ainda pendentes - terá discernimento, humildade e espírito público suficientes para admitir que o outro é melhor e, além de abrir mão da própria candidatura, passar a apoiar o até agora adversário. Embora alguns possam pensar, de maneira otimista, ter força para vencer o páreo, por razões obvias, é flagrante que, sozinho, nenhum dos pretendentes reúne atualmente credenciais eleitorais para bater Bolsonaro ou Lula. Sugere-se deixar para montar a candidatura de terceira via só no segundo turno. Mas, nessa alternativa, pergunta-se: algum deles teria vigor para passar ao segundo turno? Se nada de especial ocorrer, é lógico que não, e os candidatos daquela fase seriam, fatalmente, mais uma vez, Bolsonaro e Lula ou quem ambos indicarem caso desistam de concorrer. Aquele que resultar como candidato em oposição à polarização direita-esquerda terá de provar aos demais ser o melhor para o quadro que se apresenta para 2022 e, ainda, acenar com motivos - e possivelmente vantagens - para os candidatos desistentes e seus partidos o apoiarem. Sem isso, adeus à terceira via. Apesar dos 36 partidos políticos oficialmente registrados, só se destacam as forças representativas de direita e de esquerda. A direita hoje encarnada pelo presidente, prestes a filiar-se ao PL, e a esquerda capitaneada por Lula que, com a anulação de suas condenações pelo Supremo Tribunal Federal, se esforça para aglutinar o que sobrou do PT e seus satélites depois do impeachment de Dilma Rousseff e dos escândalos de corrupção nos governos petistas. A arquitetura politico-eleitoral construída a partir de 1985 não favorece o surgimento de novas lideranças. A formação de maiorias parlamentares através da troca de votos congressuais por benesses apequena os congressistas e a adoção da reeleição para presidente, governador e prefeito, prolonga a vida útil dos que chegam ao poder, mas traz inconvenientes efeitos colaterais. O principal deles é o governante ter de dividir seu tempo e esforço entre governar e articular para se reeleger ao final do mandato. Bolsonaro só conseguiu furar o círculo vicioso estabelecido pelas reeleições de FHC, Lula e Dilma porque, ao tomar posse logo após o impeachment de 2016, o vice-presidente Michel Temer declarou não almejar a reeleição. Mas, desde que assumiu, o presidente constrói sua reeleição e sofre severa campanha de adversários interessados em sua cadeira, o que é prejudicial ao país. A terceira via, se vingar, poderá ser um diferencial de ajuda à esquerda. Isso porque tende a tirar votos de Bolsonaro e não fará o mesmo com Lula ou seu preposto na eleição, pois, tradicionalmente, quem vota na esquerda não muda o seu voto e não deixa de votar. Já os de centro e de direita, quando seu candidato perde, engrossam os números da abstenção. Eleitores de Moro ou Dória, por exemplo, não votariam em Bolsonaro nem em qualquer outro que não seu próprio candidato. O ideal seria que, para tirar o presidencialismo do impasse, antes das próximas eleições, o Congresso votasse a revogação da reeleição para o Executivo, valendo para os governantes federal e estaduais eleitos em 2022 e para os municipais escolhidos em 2024. Impedir os atuais de utilizar esse direito adquirido, seria puro e antidemocrático casuísmo. Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
|