O óbvio, que se constatava, na cidade de Atenas, muitas vezes, visto na cara do povo, precisou ser dito por um filósofo para que se despertasse sobre tal verdade. Foi assim que Aristóteles pensou revelar essa antiga “novidade”, mesmo que ele já tivesse nascido com ela: “O homem é um animal risível” ou que até o prezado leitor, mesmo se for sisudo, ri. Afinal, temos os músculos “risórios de Santorini”, tampouco sem controlar, até o fim da vida, nossas glândulas lacrimais. Para que elas serviriam? Quando ele falou “homem”, quis dizer também mulher; sobretudo elas, acredito eu, por terem mais sentimento, riem e choram mais do que os homens, ganhando para si quase toda a fama de chorar. Machado de Assis, em Quincas Borba, contrabalança: “E enquanto uma chora, outra ri; é a lei do mundo, meu rico senhor; é a perfeição universal. Tudo chorando seria monótono, tudo rindo, cansativo; mas uma boa distribuição de lágrimas e polcas, soluços e sarabandas, acaba por trazer à alma do mundo a variedade necessária, e faz-se o equilíbrio da vida”. Contudo, prefiro o riso ao choro. Por isso, algumas crianças, se convivem com alguma ambiência machista, perguntam: “Mãe, homem chora?” Ela, tendo convivido com o filho, caindo aqui e acolá e nas horas de dor, responde pelo ‘bom senso’: “Se a pancada for na canela, diz nome feio; se, no coração, chora”. O filho, geralmente, lembra-se de que ouvia mais nome feio do que choro, todavia do choro ninguém escapa. Eu não vou mentir: Graças a Deus, eu choro, sou sentimental. Quando alguns amigos morreram, vi também seus companheiros chorando, disfarçadamente, num “vale de lágrimas”, e eu no meio. Eles não eram daqueles que, para chorar, trancavam-se no banheiro; têm a coragem de chorar na frente dos outros; não apenas enchem os olhos d’água, ao escutar emocionante poesia, bela metáfora, coisas comoventes, literariamente bem escritas ou sentirem fortes emoções, no lirismo de uma crônica. Enfim, quem ri chora, até Lampião, o rei do cangaço, porém fora das circunstâncias de raiva e de vingança... Contou-me o cronista Sitonio que o rurícola Zé de Ambrósio, da região do Seridó, no semiárido, entre Patos e Caicó, nos tempos de seca, fazia espetáculo com seu animal, anunciando, na porteira do quintal: “O cavalo que ri”. Veja só, logo um potente animal que, na falta d’água, tinha toda razão para chorar. Mas, diante do prometido por Ambrósio, de repente se ouvia a frustração dos pagantes, não verificando alguma risada: “Ele só alevanta os beiços”. Sabido e arrogante, o dono do cavalo prestava conta: “E mostra os dentes...” Nunca procurei verificar o que dizem por aí, nesse universo do bom Deus, que as hienas riem, como se fossem gargalhadas. Mas, desconfio tanto delas como do cavalo de Zé de Ambrósio, acho que parecem tão somente levantarem os beiços e mostrarem os dentes... Ou como fazem os timbus, em defesa, ameaçando-nos atacar. Os homens, mesmo do ainda sobrevivente machismo ou ainda metidos a macho, demonstram uma promissora esperança: choram; sobretudo quando, emocionados, recebem pancada no coração. Finalmente, Do Sentimento Trágico da Vida, Unamuno corrobora: “Um pedante que viu Sólon chorar a morte de um filho, disse-lhe: Por que choras assim, se isto não adianta? E o sábio lhe respondeu: Precisamente por isto, porque não adianta”...
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