A segunda-feira, 15 de novembro, será o dia do 132° aniversário da Proclamação da República, nosso sofrido sistema de governo, tradicionalmente penalizado pela irracional ganância pelo poder contida nos seus operadores. Os políticos e assemelhados que ocupam altos postos e têm o dever de zelar pela estabilidade e promover o bem-estar coletivo, priorizam o interesse próprio e, com isso, fragilizam a instituição. Foram poucos os anos republicanos em que vivemos a verdadeira democracia mas, para desapontamento geral, nem sempre esses períodos foram os melhores para a vida do povo que, há mais de um século, é bombardeado pela bestial e utópica disputa entre direita e esquerda. Num regime democrático, como é rotulado o brasileiro (até nos seus períodos mais autoritários), todo individuo é livre para exercer sua opção político-ideológica, desde que não descumpra as leis vigentes. Mas nossa história registra partidos banidos, perseguição ideológica que em mais de uma época produziu ditadura, luta armada, presos políticos, exilados e outros males. A esquerda demorou décadas para chegar ao poder e, quando chegou, não resistiu às velhas tentações - de implantar a ditadura do proletariado e montar na América Latina uma federação nos moldes da soviética, que caiu de podre em 1991 - e, restou destituída pelo impeachment de Dilma Rousseff, na esteira do Mensalão, Petrolão, Eletrolão e outros escândalos de corrupção que se constituíram nos maiores da história nacional. A República brasileira, proclamada com o objetivo de nos livrar do absolutismo e vícios monárquicos, é instável desde o seu começo. O marechal Deodoro da Fonseca, seu proclamador e primeiro presidente, foi forçado a renunciar dois anos depois da proclamação, em novembro de 1891, quando tentou fechar o Congresso e se indispôs com a Marinha, que ameaçou bombardear o Rio de Janeiro, então capital federal. O vice, marechal Floriano Peixoto, assumiu e fez um governo também autoritário, seguido por outros que, aos trancos, estiveram sob o domínio das oligarquias paulistas e mineiras dos produtores de café e de leite. Em 1930 houve a revolução que levou Getúlio Vargas a 15 anos no poder, dos quais 8 em ditadura declarada. Deposto em 1945, Vargas voltou à presidência vencendo as eleições de 1950. Enfrentou voraz oposição e cometeu o suicídio em 24 de agosto de 1954, quando era ameaçado de nova deposição. No ano seguinte, Juscelino Kubistchek venceu a eleição e sofreu tentativa de golpe que pretendia impedir sua posse, sufocada pelo então ministro da guerra. Em 1961, Jânio Quadros renunciou após sete meses de governo, assumindo o vice João Goulart que, acusado de esquerdizar o país, foi deposto em 31 de março de 1964, quando os militares assumiram sob o argumento de preservar a democracia, e ali permaneceram por 21 anos. Quando os militares devolveram o poder aos civis, ocorreu a morte do eleito Tancredo Neves (e a posse do vice José Sarney). A eleição de Fernando Collor (que sofreu impeachment e foi substituído pelo vice Itamar Franco). Em 1994, elegeu-se Fernando Henrique Cardoso, que durante o regime militar viveu exilado e, como presidente, criou a reeleição para cargos executivos, governando por oito anos seguidos. Foi sucedido pelo petista Lula que teve como sucessora Dilma Rousseff, também do PT, afastada pelo impeachment de 2016 e substituída pelo vice Michel Temer. Finalmente, veio o presidente Jair Bolsonaro que, seguindo o hábito político nacional, é alvo de desmedida oposição. Tomou posse sob o eco da pregação dos que lutam pela ruptura institucional e passou a ser acusado pelos opositores de golpismo e outras coisas. A luta ideológica nada mais representa. Os políticos brasileiros nela insistem apenas para criar situações em que possam morder maiores pedaços do dinheiro público. Isso precisa acabar. A grande tarefa do político, independente do partido e da ideologia, é atuar pela melhora do país, diminuição das desigualdades entre os cidadãos e pela soberania nacional. Esqueçam, senhoras e senhores, dos interesses próprios ou de grupos e compreendam que ao assumirem seus mandatos, assinaram um contrato de trabalho pelo país. Cumpram para, com isso, evitar que nas próximas eleições, sejam mandados embora pelo povo-patrão. Que a classe se conscientize e a República, finalmente, encontre o caminho da estabilidade e do desenvolvimento econômico e social... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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