Da minha janela, acompanhei todo o desenrolar do romance. O casal de rolinhas estava sempre juntinho, desde os primeiros raminhos do ninho. Para constituírem família, escolheram uma lustrosa folha de palmeira a mais escondidinha, pois de bobos os passarinhos não têm nada! A salvo da bisbilhotice alheia, tudo é muito mais tranquilo, quem não sabe? Observei a cada dia, o trança-trança dos bichinhos. Em cada detalhe, o cuidado com o lar. Mais uns dias, a nova aquisição: dois ovinhos brancos e brilhantes. Bonito mesmo foi ver o zelo do casal com a futura família. Abdicaram de tudo durante o tempo da choca. Não houve um só dia em que os ovos tenham ficado sozinhos. E a ternura dos biquinhos se tocando? Será que se beijavam? Será que conversavam uma conversa que só eles entendiam? Ah, só sei que era bonita demais aquela cumplicidade: enquanto um vigiava o tesouro, o outro sumia no mundo provavelmente ia à caça de comida para quem dava plantão. Hoje senti falta do casal. Aproximei-me do ninho e dei uma olhadinha. Lá no fundinho já não havia mais ovos, mas duas bolinhas implumes, feiosas de morrer! Mentira. Como achar feias, apesar da feiura, aquelas duas criaturinhas, cuja vinda ao mundo acompanhei desde o primeiro capim? Tem jeito, não! Daí a pouco, de longe, vi: papai e mamãe chegaram em animada revoada, trazendo uma carta na manga, ou melhor, um inseto no bico: Vamos jantar, crianças? Pois é, agora com dois filhos pra criar, ninguém pode mais se dar ao luxo de ficar esquentando lugar no ninho. O serviço dobrou, a responsabilidade exige: ter filhos é divino, mas dá o maior trabalho! E quem liga pra isso? Nestes tempos de primavera, as pequenas aves me ensinam outra vez sobre o mais perfeito dos milagres: o de dar vida a uma vida nova. Nesse momento, mamãe Rolinha está lá. Da janela posso vê-la rolinhando as crias...
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