A Petrobras está cortando boa parte das encomendas dos distribuidores de óleo diesel e gasolina. A informação é de que a empresa não terá capacidade para atender todos pedidos apresentados para o mês de novembro, que começa em alguns dias. Segundo a estatal, nos últimos anos, o mercado brasileiro de diesel foi abastecido tanto por sua produção, quanto por importações realizadas por distribuidoras, terceiros e pela própria companhia, que garantiram o atendimento integral da demanda. Na comparação com novembro de 2019, a demanda dos distribuidores por diesel aumentou 20% e a por gasolina em 10%. No primeiro semestre, o parque nacional de refino operou com 79% de sua capacidade, a mesma média de 2020 e maior que 2019 (77%) e 2018 (76%). Mas hoje já está em 90% e qualquer alteração tem de ser programada com razoável antecedência. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), emitiu nota descartando, por enquanto, qualquer possibilidade de desabastecimento de combustíveis no mercado nacional e garantindo que tomará providências se constatar a anomalia. Apesar da grita sobre os preços altos dos combustíveis no Brasil, os distribuidores revelam que houve maior demanda pelo diesel da Petrobras, porque o combustível disponível no mercado externo está mais caro do que o valor praticado aqui. A alta do preço do petróleo e seus derivados não é um fenômeno brasileiro, como os politiqueiros querem fazer acreditar; ocorre em todo o mundo. É aí que se questiona a utilidade de manter uma empresa petroleira estatal. Embora seja seu controlador, o governo não pode e nem deve em qualquer hipótese interferir na sua política de preços e, mesmo assim, sofre críticas dos que cobram sua interferência e dos que reclamam da possibilidade dela. Há a suposição geral de que a companhia é estratégica e garante o abastecimento da frota nacional. Afinal, essa foi uma verdade (ou mentira) sempre dita aos brasileiros. Mas agora se verifica que a companhia não é tão careira quanto se pensa – tanto que seus combustíveis são vendidos a preços menores do que os do mercado internacional a ponto de os distribuidores lutarem, para adquiri-los, quando poderiam importar. Estamos precisando redefinir a política energética e estabelecer a verdade do mercado. Não é o caso de procurar “culpados” pelos altos preços de gasolina, diesel, gás de cozinha e outros produtos do gênero, mas de traçar estratégias para que cheguem ao consumidor a preços compatíveis. É preciso desmistificar o setor. Já sabemos que o petróleo não é nosso. Nem mesmo quando retirado do subsolo nacional. Ele pertence à Petrobras, que o cota a preço internacional e depois nos vende. Para operar assim, não precisamos de uma estatal. Melhor seria a privatização, já que somos sujeitos aos preços de mercado. O grande sonho econômico é chegarmos ao dia em que o Estado Brasileiro deixe de ser empresário mas seja um competente normatizador, licenciador e fiscalizador. Pouco nos importará quem seja o “dono” da Petrobras, da Eletrobras e das outras “bras” nem sempre produtivas mas muitas vezes gravosas ao erário porque, como estatais, não vão à falência e tem seus prejuízos cobertos pelo Tesouro. Com certeza, ainda se encontrará uma solução para garantir os combustíveis nas bombas de abastecimento. Mas o Brasil precisa de mais que isso. A matriz energética mudará nos próximos anos em consequência da entrada e popularização do carro elétrico. Muitos países – inclusive a vizinha Argentina – já têm data para banir os motores a explosão. Sem eles, o petróleo e outros carburantes perderão sua utilidade e as empresas petrolíferas nada valerão. Não podemos esquecer que, para movimentar uma frota de carros elétricos, precisaremos de eletricidade e o nosso sistema não tem folga e ainda sofre os revezes da estiagem. É necessário investir em fontes alternativas como a de placas fotovoltaicas (solar) e a eólica (hélices captadoras do vento). Sem isso, nada de carro elétrico... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
|