Há quem me pergunte em quais circunstâncias escrevo as minhas crônicas, ao que reflito para não me limitar ao fato de apenas ter boa memória. Antes de ser um texto repleto de lembranças, bem melhor é procurar deduzir delas ideias e outras sábias conclusões, o que é mais enriquecedor do que os limites mesmo da boa memória. Descrever fatos já escritos e lidos não passa de um antigo gravador de rolo, muito fiel ao que já foi dito. Gosto muito do escritor que ultrapassa suas costumeiras e sequenciais lembranças, mesmo que muitas delas se destinem às jovens e futuras gerações, que, por sinal, têm fugido do que vem sendo escrito no papel, às vezes, apenas espiando, ligeiramente, o que está escrito em resumo nas telas dos seus celulares. A esperança é que essas lembranças se relacionem com ideias e pensamentos que nutram à potencialidade dessas jovens inteligências e sejam deleite aos mais velhos recordar fatos já vividos, o que ajuda correlacionar efeitos à causa ou causas aos potenciais efeitos. A Filosofia me ensinou que as causas estão grávidas de muitos efeitos, cabendo à Lógica deduzir quais acontecimentos ocorrerão no seu devido tempo. Não me importa a pompa da erudição, ela aniquila a simplicidade da sabedoria que embeleza o texto de uma crônica, capaz de apresentar surpreendentes e diferentes detalhes. Aristóteles nos ensinou que a surpresa da arte faz que a arte seja mais arte, mais atrativa ou atraente. Ou seja, na música, na pintura ou na literatura, e também nas outras artes, a genialidade do artista está naquilo que ele nos traz de surpresa. Isso empresta brilho à obra. Nesse sentido, a criança, que tem pouco tempo da vida memorizado, surpreende-nos com tiradas geniais, que são vaidosamente contadas, nas festas ou noutros encontros, pelos pais e avós. Não desfaço de todo a boa memória. Ela contém muitos dados à comparação, à analogia, às novas imagens e às metáforas. Também, na comparação, exercita-se o discernimento, bem mais precioso do que o saber propriamente dito. Voltando ao início, sobre esses aspectos, respondo que prefiro a crônica ao artigo, pois a crônica dá mais liberdade a quem a escreve, inclusive propiciando maiores possibilidades de surpresas, que desmancham qualquer emaranhado de repetições fastidiosas. Indagam: e o tema? Alguns parecem sair da ponta da pena, alimentada pelo tradicional tinteiro. Outros, de ideias que adormecem comigo e acordam dispostas e fortes, antes do café da manhã. Tenho feito esse exercício desde 2005. Grande parte desses anos, todos os domingos, no então jornal Correio da Paraíba, e atualmente, todas as sextas-feiras, neste jornal A União, colecionando crônicas, já numa aconselhada coletânea para três ou cinco livros. Nesse sentido, não tenho dado ouvido aos estímulos de Iveraldo Lucena, Jackson Carneiro de Carvalho, Manuel Jaime, Astenio Fernandes, Milton Marques, Jorge Siqueira, Wills Leal e tantos outros. Após o incentivador carão de Hildeberto Barbosa, entreguei tal responsabilidade a Juca Pontes. Se tardar, a culpa é dele; que suas múltiplas atividades o liberem. Quanto a mim, no meio de tanto trabalho, continuarei arrumando tempo, para escrever conteúdos em adequados termos, para as sentenças, que expressem surpresas e conceitos
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