O “apagão” do Facebook, WhatsAPP e Instagram, registrado na segunda-feira, revelou-se tão impactante quanto o da eletricidade. Não provocou escuridão nem parada de elevadores e eletro-eletrônicos, mas a inatividade das plataformas ou prejudicou o trabalho de meios de comunicação, empresas de diferentes setores, serviços públicos (educação, saúde, segurança) e outros que se servem da rede para interagir com sua clientela e colaboradores. Tratado pela operadora como “pane global”, o fenômeno ocorreu no Brasil, Estados Unidos, Europa e alguns países da América Latina e Ásia. A disposição do Procon de São Paulo, de multar - em R$ 10,7 milhões - a operadora dos três aplicativos, demonstra a dimensão dos transtornos causados pela interrupção nos serviços. Mas, além disso, há a denúncia da ex-funcionária do Facebook, que disse ao Senado dos Estados Unidos que a empresa preferiu ampliar os lucros em vez de investir em segurança. Pelo tamanho que a internet e suas redes e serviços alcançaram, é preciso mais regulação. O poder público, que os licencia a operar, tem a obrigação de desenvolver mecanismos que garantam a boa prestação de serviços e o integral cumprimento da legislação nacional. É para isso que existe a figura das autoridades - especialmente o Legislativo e o Executivo - que fazem e aplicam as leis. Já temos um marco regulatório da internet, mas faltam definições e pormenores. Governos e legisladores não conseguiram avançar em garantias porque, erroneamente, tentaram controlar o setor além do devido. Não houve possibilidade de acordo em dispositivos que se pareciam com censura - que é proibida nos meios de comunicação brasileiros. A falta de definições tem levado ao cometimento de excessos por usuários e operadores e a decisões judiciais que merecem críticas justamente por esbarrar no cerceamento da liberdade dos que se servem do meio para se comunicar. As operadoras têm cometido abusos ao suspender contas e endereços sumariamente. Tudo isso tem de ser regulamentado e colocado em vigor sem demora. O mecanismo que impede a censura aos meios de comunicação (artigo 220 da Constituição) funciona adequadamente no Brasil. Jornais, rádios e TVs têm liberdade editorial mas respondem de acordo com a legislação de cada área que eventualmente vierem a ofender. O mesmo princípio deveria ser aplicado à internet e suas plataformas, portais e assemelhados. E, mais que isso, estabelecer um contrato-padrão onde usuários e operadores tenham direitos e deveres, além de mecanismos para os manter e defender. As empresas estrangeiras que aqui vêm operar o serviço precisam, minimamente, obedecer a legislação local para evitar que a rede se transforme em terra de ninguém. A rede mundial é apenas parte da formidável mudança ocorrida no mundo durante as últimas três décadas. A principal delas é o ambiente digital que dá suporte a tudo e tornou mais dinâmica a produção gráfica e os processos laborativos. Por conta de sua competente estrutura, as redes e seus equipamentos hoje abrigam praticamente todas as atividades existentes. O fazem total ou parcialmente. A chegada da internet 5G - popularmente definida como 100 vezes mais rápida do que a 4G usada atualmente - deverá ampliar em muito sua participação nas atividades governamentais, empresariais, educacionais, de comunicação, segurança, saúde e a outros setores da sociedade. Governo, legisladores e centros de saber técnico e social precisam se mobilizar para criar regulamentos e leis que a permitam operar e, ao mesmo tempo, garantam os interesses da população e da sociedade. Da mesma forma que os veículos de comunicação têm obrigações a cumprir para poderem operar, é imperativo que os exploradores de plataformas, portais, sites e outros serviços disponibilizados na rede mundial têm de ser regulados. Já acabou a fase do serviço experimental, prestado a poucos e sem volume e importância econômica. Hoje, cada minuto “fora do ar” representa elevado prejuízo e pode custar preciosas vidas. Mobilizem-se todos. O país tem pressa... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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