Quando eu escrevi sobre o Transbordo, teve gente que me cobrou, pois eu não falei das empreiteiras que prestam serviço dentro da área da Transpetro. Eu então respondi que isso não poderia ser um parágrafo, tem que ser um novo texto só sobre esse assunto, e aqui está! Quando a Petrobras começou a desapropriar a área nobre do Centro de São Sebastião para construir os tanques, os mais otimistas tentavam convencer os realistas, dizendo que isso iria gerar emprego para os sebastianenses. Realmente, no começo muita gente passou a trabalhar na Petrobras, principalmente filhos e genros de vereadores. Mas assim que começaram os concursos, concurseiros do Brasil inteiro passaram a disputar as vagas e aquele argumento foi por água à baixo! Quando foi autorizada a contratação de empreiteiras para realizar os serviços que eram dos funcionários, a situação ficou ainda pior. Em São Sebastião as empreiteiras eram de fora, e os funcionários ficavam em alojamentos. Essas empreiteiras faziam o trabalho pela metade do preço das firmas locais. Quando eu estava fazendo o jornal dos funcionários do Terminal, em 1988, os funcionários das empreiteiras estavam sendo alfabetizados dentro da área, pois alguns equipamentos tinham instruções por escrito e os funcionários não conseguiam realizar a tarefa pois não sabiam ler. Vale lembrar, que antes disso, para trabalhar na Petrobras precisava passar num concurso, ninguém imaginava que chegaria um tempo onde analfabetos estariam fazendo o serviço. O quadro já era muito triste, mas nada se compara ao que estou acompanhando de 2016 para cá, quando a Lava Jato destruiu as empresas brasileiras e os governos estão sucateando a Petrobras. Em 2019 realizamos junto com a Cetesb, Fapesp e Secretaria de Meio Ambiente do Estado um Fórum de Moradores de São Sebastião, principalmente da Vila Amélia sobre os riscos do bairro em relação à Transpetro. Nesse evento colhemos um abaixo assinado questionando a empresa sobre o fato de que tínhamos mais de 200 funcionários de empreiteiras na Rua Ilhabela, no horário do almoço e agora eles já estão mais lá. Quero lembrar também que já vimos o muro da Transpetro cair duas vezes por causa de chuvas de verão, quando a falta de capina no rio que desce para a vala, ficou muito clara, quando o muro caiu. Em fevereiro de 2018 numa dessas chuvas abriguei 10 pessoas da mesma família que ficaram desabrigadas pois a enchente passou com água até 1,5 m de altura dentro das casas e eles perderam muitas coisas, tiveram que mudar do lugar, não puderam voltar. Levei todos eles na Delegacia, fizemos um B.O. e foi aberta uma ação contra a Transpetro, juntamente com um advogado que teve seu escritório todo inundado também. Até agora não deu em nada! Ainda este ano 2021, durante um apagão de luz na cidade, pude constatar que a área da Transpetro ficou também sem luz, demonstrando que o gerador deveria estar quebrado. Diante de todos esses fatos, cobro novamente que seja reativado o Plano APELL, o plano para emergências no Terminal, pois os sebastianenses estão totalmente despreparados para uma nova emergência. Na última reunião que participei, onde estava a Defesa Civil, Bombeiros e Polícia Militar eu perguntei quantas pessoas ali já tinham acompanhado um acidente na Transpetro, somente 4 pessoas levantaram a mão. Essa nova geração de 1984 pra cá, quando aconteceu o incêndio na Vala do Outeiro, não viveu ainda uma situação de emergência de fato e isso me preocupa! No APELL temos orientações para as escolas que se localizam na Vila Amélia, procedimentos que o cidadão precisa conhecer, pois a única vítima do incêndio na Vala do Outeiro, foi um morador que enfartou. Todos nós temos o direito de receber as informações, princialmente por que o risco existe.
Nota do Editor: Maria Angélica de Moura Miranda é jornalista, foi Diretora do Jornal "O CANAL" de 1986 à 1996, quando também fazia reportagens para jornais do Vale do Paraíba. Escritora e pesquisadora de literatura do Litoral Norte, realiza desde 1993 o "Encontro Regional de Autores".
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