Ilhabela é uma inspiração para mim, há muitos anos acompanho o reconhecimento e o respeito pela Cultura Caiçara. Fui testemunha da história da família Pinna, com todo legado que eles ainda nos apresentam e também conheci de perto dona Iracema França, a nossa Dedé, que reverenciou até o fim da vida a importância do folclore de Ilhabela em todas as suas manifestações. Quantas vezes atravessei esse canal para registrar uma história, como profissional e como caiçara, que me faz ter um olhar especial para todo tipo de assunto. Muitos personagens acompanho desde a infância, e hoje vejo que atuam com compromisso, nos mínimos detalhes, pela importância de fazer quem chega entender e se engajar na Cultura. A Congada de Ilhabela é um exemplo disso! A ilha é mesmo um grande laboratório, onde algumas pessoas investiram seus sonhos: a arquitetura pós-caiçara de Chu Ming Silveira, o Celafiscs do Vitor Matsudo, o Colégio São João do Ângelo, o Projeto Pés no Chão do Emiliano, a Associação Barreiros da Maria Silvia, a Baía dos Vermelhos do dr. Samuel, quantas histórias lindas! No traço forte da Cultura Caiçara encontramos marcas das quatro ocupações que aconteceram no Litoral Norte, a Cultura Indígena, a Européia (escravagista), a Caiçara e a Turística esse é o nosso maior patrimônio. Os jovens de Ilhabela devem entender a importância que esse arquipélago tem na história do Brasil, e mais ainda, na história particular de cada cidadão que, chegando aqui, vê caminhos dos mais simples aos mais sofisticados projetos. Há quem queira simplesmente seguir a profissão dos pais e resistir no cotidiano da pesca, mas também se um veleiro atravessar o seu caminho, ele poderá conhecer o mundo todo. Na música os Regionais registraram a sua época e agora até grandes orquestras nos trazem suas partituras. Ilhabela é uma bailarina com os braços abertos sobre o continente nos trazendo proteção e abrigo. Esse canal que nunca alcançou economicamente toda riqueza que poderia trazer para essa região, traz sem dúvida, na cultura dos seus moradores na luta pela preservação, engajamento social e turístico, uma bela história que a cada ano ganha novos capítulos.
Nota do Editor: Maria Angélica de Moura Miranda é jornalista, foi Diretora do Jornal "O CANAL" de 1986 à 1996, quando também fazia reportagens para jornais do Vale do Paraíba. Escritora e pesquisadora de literatura do Litoral Norte, realiza desde 1993 o "Encontro Regional de Autores".
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