Conheci Jânio Quadros em 1962 na campanha junto com Carvalho Pinto. Lembro da propaganda principal com fundo azul, o pintinho amarelinho com uma vassoura debaixo da asa. O lema, "Vamos varrer a sujeira do Brasil". Era a luta da vassoura do Jânio contra a espada do Lott. Em campanha Jânio e Carvalho Pinto passaram por Itapuí (SP) e Jânio tornou-se meu ídolo, foi minha primeira decepção quando ele renunciou. Meu outro ídolo na época era o Gilmar dos Santos Neves, goleiro do Corinthians, depois do Santos esse nunca me decepcionou. Quando veio o golpe militar acabaram-se os ídolos e surgiram os companheiros de luta e de ideal. Somente no final do regime militar passei a ter Ulisses Guimarães como ídolo de verdade. Em todas as crises que o Brasil passou depois da sua morte, sempre sinto falta do Ulisses. Em 1979 pensei que o Lula podia ser um ídolo e fui conhece-lo na Vila Euclides, trabalhei como voluntário arrecadando alimentos para os grevistas, até o dia que o próprio Lula me excluiu do movimento ao afirmar que sendo marceneiro autônomo era patrão igual aos que eles combatiam e, vagabundo porque ainda estava estudando. "Estudante não é trabalhador" palavras textuais. Desde aquela época Lula nunca mais me decepcionou, justamente por não acreditar em uma só palavra do que ele diz. Lula não me decepcionou quando não fez nada como deputado federal. Quando ele foi eleito presidente, não tive nenhuma esperança, e menos ainda com o anúncio da paternalista e demagógica campanha da Fome Zero. Não esperava nenhuma revolução. Historicamente no Brasil todos os governos, ditos conservadores, foram revolucionários e todos o governos, ditos revolucionários, foram conservadores. Não precisamos ir muito longe para constatar a forma elitista e conservadora de muitos dos petistas alçados ao poder. Jamais imaginei uma crise como a que estamos vivendo agora e não deixo de supor que ela tenha sido armada, e por sinal, muito bem armada. Lula e sua trupe foram encurralados e estão sendo abatidos por ordem de importância. Restou abater o próprio, que parece já caminhar pelo corredor da morte. Os brados lançados por Lula desde aquela entrevista em Paris mais se assemelham a estertores, no último, feito à nação em cadeia nacional, pareceu em algumas entrelinhas, a preparação de uma renúncia. Agosto é um mês fatídico aos presidentes brasileiros, talvez haja uma explicação nos astros, o certo é que a História comprova que dificilmente Lula sobreviverá. Minha mãe, lulista convicta, desabafou: "Lula foi minha última esperança". Para ela, a beira dos 80 anos, é uma grande decepção. Como será para os jovens que depositaram o primeiro voto numa esperança que se revelou podre e vazia? Desde jovem sobrevivi às decepções e algumas vezes tive que me agarrar ao velho chavão "brasileiro, profissão esperança". Duda Mendonça fez de Lula a esperança brasileira, e muitos jovens compraram esta idéia com o seu primeiro voto. Mercadante talvez um dia chegue a Ulisses; Robinho talvez chegue a Pelé. E os nossos jovens? Que tipos de cidadãos podemos esperar?
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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