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Crônicas
25/10/2020 - 07h00
Encrenqueiro
Dartagnan Ferraz
 

Depois do café fui pra janela respirar ar puro porque me deu uma coceirinha na garganta, dona asma comunicando que vai me fazer uma visita. A bombinha sempre está no bolso da bermuda, mas, por incrível que pareça, o ar puro fez um verdadeiro milagre, não recebi a visita da dona asma.

Fiquei olhando o movimento da rua, muito fraco, mas eu estava com meu pensamento viajando pelo país do passado. Com uma saudade danada dos meus verdes anos de criança e adolescente. Não, nunca fiz nada de destaque. Fui apenas um menino e um adolescente doente (tenho a maldita asma desde os sete meses de idade, herança de meu avô) e encrenqueiro, arengueiro, chato. Éramos dez irmãos (sete homens e três mulheres), hoje somos nove, partiu o melhor de nós.

Comecei nessa relembrança a questionar como é que eu era tão encrenqueiro e arengueiro sendo doente e sem ter físico para aguentar as rebordosas. Penso que se não fosse um irmão que era muito forte e me protegia, eu não estaria vivo. Mas apesar de encrenqueiro tinha vários amigos, moleques do mesmo tipo mas sadios. Todos eles me davam uma mãozinha. Quando o acesso batia eu tomava uma mão de comprimidos e ficava respirando fundo. Quando ficava aliviado e me maldizia da doença, o meu melhor amigo dizia: "Cabôco, quando Deus marca é para não perder de vista!"... Eu, pasmem, concordava com ele. Mas sabia que a asma não me fora dada por Deus, mas herança de meu avô.

Quando adolescente, pasmem, cheguei a jogar futebol, mas só aguentava no máximo meia hora, embora habilidoso com a bola, sabia driblar, sem correr não se pode jogar bola, a não ser Didi, o craque do Botafogo e da Seleção. Mas não foi nem a asma que me fez deixar de jogar bola, mas porque desconfiei que além de estar me tornando um peso para meu time, ainda havia coisa pior, notei que os beques dos times adversários, alguns amigos meus, estavam facilitando as coisas para mim. Por amizade, mas também por pena, e eu não aceito esse tipo de compaixão. Deixei o futebol.

Na janela ainda recordei outro absurdo, é que fumava logo depois de ter asma. Uma loucura que só me prejudicou. Mas com certeza sinto uma saudade danada daquele menino e daquele adolescente encrenqueiro. Juro. Inté.

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