Faltava menos de uma hora para o começo da partida Brasil x Peru, na última terça-feira, válida pelas eliminatórias à Copa do Catar, quando a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Empresa Brasileira de Notícias (EBN) anunciaram a sua transmissão pela TV Brasil. Com isso, os torcedores puderam acompanhar as jogadas e ver os quatro gols da Seleção. O acontecido faz parte das acomodações posteriores aos escândalos de propinas e outras irregularidades cometidas por dirigentes mundiais do futebol. Os direitos de transmissão, outrora pertencentes à Federação Internacional de Futebol (Fifa), são agora das federações dos países que sediam as partidas e, no caso de Brasil x Peru, a Rede Globo - tradicional detentora dos jogos das Copas do Mundo no Brasil - não chegou ao acordo com a federação peruana. A alternativa encontrada pela CBF foi buscar uma emissora pública para a transmissão e colocar o jogo no seu site de internet. Com isso, o governo acaba de encontrar uma finalidade à TV Brasil, diferente da original que, ao que parece, era apenas o empreguismo dos aliados dos governos que a criaram. Disseminada no Brasil todo pela TV Digital e operadoras por assinatura, a emissora conseguiu, com a partida de futebol, chegar a 3 pontos de audiência em São Paulo e a 8 em Brasília, marcas nunca antes alcançadas. Talvez seja a alternativa para servir aos esportes em todas as modalidades que não interessam ou não haja a possibilidade de acordo entre os organizadores e as TVs comerciais. É bom lembrar que, quando uma emissora detém o direito de transmissão, pode transmitir ou não o jogo, de acordo com seus interesses comerciais, e o grande prejudicado é o torcedor, que fica privado do espetáculo. A presença do canal público resolve esse problema. Essa é mais uma transformação por que passam o mundo e as comunicações. Originalmente havia no Brasil três redes de televisão sendo uma delas disparada na frente e, com isso, acessando o maior bolo publicitário privado e estatal. Com a TV por assinatura, surgiram as operadoras e proliferaram as opções de programação. Mas, o novo tempo veio com o avanço da internet e similares, com os streamings e outras possibilidades de veiculação de programação com imagens que hoje abrigam as lives e já testaram a transmissão de jogos de futebol sem a participação das emissoras. É a democratização da comunicação que, se não ocorre por boa vontade do meio, acaba acontecendo à sua revelia. O Brasil e o mundo ainda não encontraram o formato ideal para o aproveitamento das novas oportunidades de comunicação. As redes sociais e os canais disponibilizados ainda constituem experimentações. Parlamentares, políticos e até detentores das comunicações tradicionais pregam a necessidade de estabelecer parâmetros e acusam-se mutuamente de pretenderem criar a censura (que é proibida por lei em nosso país). Na verdade, é necessário que os usuários tenham consciência do poder de multiplicação de cada veículo da nova comunicação e os utilizem com bom-senso e sempre no pólo positivo. É inadmissível que se pregue para a internet, redes sociais e outros novos meios a mesma legislação restritiva e passível de uso político e cartelizado que durante muitos anos vigorou no país e ainda conserva algumas das suas inconveniências. É preciso entender que o mundo é outro depois que a comunicação rápida e abundante tornou-se disponível até ao aparelho telefônico que carregamos no bolso. O único ponto que deve ser observado é a proibição do anonimato. Quem cometer crimes usando essas ferramentas, deve responder com base na legislação já existente. Nada mais... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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