Era no tempo que este véio asmático teimava e se metia a jogar futebol. Nessa época, óbvio, não existia a bombinha, então o jeito era me entupir de comprimidos (Asmax, Filinasma e Tedral), antes de jogar tomava um monte. Mas só aguentava jogar no máximo meia hora. Mas, pasmem, assim mesmo era titular, jogava de ponta-de-lança (Roberto Rego sabe a função dessa posição), era fazer gols, inclusive de cabeça. Só que nunca cabeceei uma bola, meu cabelo duro de Gumex (senão caía na testa) permanecia com o penteado intacto. Eu era o camisa oito. A única habilidade que tinha era ser bom driblador, ficava paradão no bico da grande área economizando fôlego, quando recebia um passe tentava driblar o beque e usava o fôlego economizado, então às vezes fazia um gol. E quando isso acontecia pedia para sair. Mas o fato que vou relatar não tem nada a ver com minha teimosia em jogar futebol, mas sucedeu numa delas. Fomos certo dia jogar numa cidadezinha do sertão. A embaixada foi em cima de um caminhão, na carroceria, na boléia só fomos o motorista, eu que tinha asma e o técnico (e presidente do time). Era perto, mas se tornava longe devido a estrada ser ruim, não existia asfalto. Bom, chegamos, jogamos e perdemos o jogo por 4 x 3. Consegui jogar o primeiro tempo todo fazendo das tripas coração e fiz um gol. Depois do jogo, o chefe político do lugar que ficou muito satisfeito com a vitória do time da terra, nos convidou para tomar umas cervejas e comer uns tira-gostos na sua casa. Fomos. Foi uma festa de porteira aberta, tinha de tudo. Comemos e bebemos até meia noite quando voltamos. Teve ainda um arrasta-pé animado por uma sanfona, zabumba e triângulo e uma meia dúzia de garotas alegres. Quando já íamos saindo o lateral-direito do time, que não bebera nada e nem dançara, era um cara muito religioso e puritano, começou a implicar com o goleiro que bebera muito e dançara mais que a base com uma dona meio escolada. O santarrão estava dando uma lição de moral no goleiro, então o coronel ouviu a ladainha, se achegou junto aos dois, todo mundo olhando, vendo e ouvindo, e chamou a mulher dele: - Zina vem cá! Ela atendeu educada, atenciosa, uma senhora muito simpática, então ele lhe perguntou: - Dina, dadonde eu te tirei para casar comigo? Ela respondeu naturalmente: - Você me tirou do cabaré, eu era puta. O coroné concluiu: - Tá vendo? E hoje chamam ela de locomotiva da sociedade. Mulé mais direita não tem no lugar. Deixe de ser metido a santo, menino. Vai ver que ainda é donzelo. Mais não disse, mas na volta tiramos o couro do donzelo. Ele aprendeu a lição, pouco tempo depois desasnou. Inté.
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