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Opinião
01/06/2020 - 08h21
Não tenhais medo
Dartagnan da Silva Zanela
 

Há um dito de Thomas Jefferson que todos nós, bem provavelmente, já citamos em alguma conversa de botequim, dito esse que diz que o preço da liberdade é a eterna vigilância. Não a vigilância do Estado sobre nós, com o intento de fiscalizar e controlar todos os movimentos e passos dados por reles cidadãos como eu e você; somos nós, indivíduos que devemos estar atentos a todas as artimanhas do Estado, a todas as incursões dos tiranos e tiranetes para cercear nossas liberdades, controlar nossas vidas sob a égide de estar agindo em nome do nosso bem estar.

O mais engraçado nisso - digo engraçado porque sou um cínico incurável - é que tais figurinhas e figurões fazem tais diabruras dizendo, aos quatro ventos midiáticos, que estão agindo de maneira “responsável” e que, qualquer um que reze fora da sua cartilha poderá ser enquadrado como inimigo público número um da saúde, do bem estar, da sociedade, do cosmos, da federação galáctica, de Asgard e do multiverso.

Digo isso não por esculacho. Não. Digo porque tal quadro, onde o medo é elevado a categoria de virtude número um, foi-nos claramente pintado por George Orwell em sua obra “1984”.

O autor, entre outras coisas, nos apresenta o que ele chamou de novilíngua que, nada mais seria que uma forma extremamente sutil e engenhosa de restringir a capacidade de percepção da realidade e, consequentemente, de pensá-la, e isso seria feito a partir do controle, da manipulação da linguagem.

Aliás, lembremos do dito que se faz presente no centro do lema do partido da distopia em questão: “liberdade é escravidão”. Não sei quanto a você, mas isso me parece midiaticamente familiar.

Em se falando nisso e se fôssemos pensar o momento atual, levando em consideração que hoje em dia não são poucos os que usam e abusam disso que Orwell chamou de novilíngua, compreenderíamos com clareza cristalina que todo aquele que dissemina o medo e a irresponsabilidade, com base em duvidosas evidências científicas, possivelmente chegaríamos a conclusão de que tais figuras merecem um bom cadinho de dúvida de nossa parte. Ao menos isso.

Parêntese: ninguém merece nossa obediência canina. Ninguém. Ora, se Deus não exige isso de nós, qualquer um que queira nossa submissão cega deve ser vigiado com olhos bem arregalados. Fecha parêntese.

Por fim, lembrei-me doutra distopia que, bem provavelmente o amigo leitor conhece. O contexto dessa história é mais ou menos assim: era uma vez, num reino tão tão distante, onde o mundo havia mergulhado numa profunda crise e entrado em uma terrível guerra. Bicho feio meu irmão. Bicho feio.

Nesse cenário, os EUA deixaram de ser uma superpotência, como consequência de uma grande guerra civil e, enquanto o pau comia solto, uma terrível pandemia assolou o mundo. A grande praga era um vírus, um tal de "vírus de Santa Maria" e, tudo isso estava acontecendo num futuro não tão distante. Em 2020.

Não estou inventando firula não. Esse cenário é apresentado pela história em quadrinhos “V de vingança” de Alan Moore, que virou filme em 2005. Um baita filme, diga-se de passagem. Tão massa quanto aos quadrinhos.

E o mais interessante nessa história toda é que a nação que conseguiu controlar a pandemia e restaurar a segurança social foi justamente aquela que, com a anuência de todas as pessoas “de bem” e “do bem”, acabou com as liberdades civis e com os direitos fundamentais em nome da rápida e responsável resolução da situação calamitosa que se armou.

É. As pessoas aceitaram, felizes da vida, a implantação de um regime totalitário em nome da segurança e da saúde pública.

Sim, qualquer semelhança é apenas uma mera coincidência. Claro que é. Sempre é.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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