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Crônicas
29/05/2020 - 07h36
O rio é delas
Rangel Alves da Costa
 

O rio é delas... Nas manhãs de cores singelas. O rio é delas... Perante as paisagens com suas aquarelas. O São Francisco é delas... Relembrando as canoas, os barcos e as velas. O Velho Chico é delas... No remanso das águas de antigas procelas. O Opará é delas... Lavando, quarando, limpando roupas e panelas. O rio é delas... Mais adiante os olhares apreciam das portas e janelas. O rio que é delas... Nada tenho. As águas, o rio, a beiradeira vida. É tudo delas...

O Velho Chico é delas... Aquelas mulheres ribeirinhas, mulheres nascidas nas águas, beiradeiras, guerreiras. O Velho Chico é delas... Descem os beirais tão faceiras, levando panos e rebolando as cadeiras. O Velho Chico é delas... Levando bacias nas mãos tão arteiras, lanhadas e mesmo assim altaneiras. O Velho Chico é delas. Pedir ao rio a permissão e a benção, em ritual de preces tão certeiras. No Velho Chico que é delas... E então adentrar nas águas, molhando as roupas compradas nas feiras, e começar o ofício pelas mãos aguadeiras. No Velho Chico delas...

O São Francisco é delas... Um rio antigo como a própria história, de bela pujança em toda sua glória. O São Francisco é delas... E elas que trazem consigo a mais velha memória, que nasceram e vivem em singela vitória. O São Francisco é delas... Vencendo a pobreza na luta tão inglória, tecendo o destino em singela trajetória. O São Francisco é delas... E é delas porque são as donas do rio, seus nomes estão nas águas e em toda sua história.

O Opará é delas... O rio-mar é delas. São as donas das águas, dos cantos, das ondas, remansos, das alegrias e mágoas. O Opará é delas... Donas de um rio com nome de santo, São Francisco de ondulados e fráguas. O Opará é delas... As roupas lançadas ao azul, camisas e anáguas. O Opará é delas... Águas e mágoas, cantos em fráguas, no Opará que é delas...

As donas do rio são pessoas simples, são mulheres humildes, são ribeirinhas que fazem do instante da lavagem de roupas um motivo para o reencontro consigo mesmas, com suas memórias e seu passado. Ali dentro das águas, cantando, proseando, dizendo palavras molhadas, são como estivessem numa magia sem fim.

Enquanto esfregam, passam sabão, betem e estendem roupas nas beiradas, elas passam a representar a mesma moldura numa paisagem antiga, de distante passado. Suas mães, suas bisavós, suas tataravós, todas um dia estiveram ali e também fizeram assim. Por isso que seus cantos são ainda os mesmos cantos que novamente ecoam para retornar no futuro, perante os filhos e netos, perante as gerações vindouras.

O rio é delas e elas sabem disso. Por isso amam o seu rio. Por isso têm suas águas como o próprio sangue que corre e escorre em suas veias.


Nota do Editor: Rangel Alves da Costa é poeta e cronista. Mantém o blog Ser tão / Sertão (blograngel-sertao.blogspot.com.br).

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